São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2010

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DIÁRIO DE BARCELONA

Projeto faz polêmica defesa da língua catalã no cinema

Por JOHN TAGLIABUE
BARCELONA, Espanha - Na principal cidade da Catalunha, a língua nativa, o catalão, é ouvida em quase todos os lugares, exceto nos cinemas. Mas isso pode mudar em breve, porque o governo local deverá aprovar uma lei exigindo que pelo menos a metade das cópias de cada filme de fora da Europa, incluindo as grandes produções americanas, seja dublada em catalão.
Isso levou 576 dos 798 cinemas da Catalunha a fechar durante pelo menos um dia no mês passado, em protesto.
Líderes da indústria lembraram que o governo da Catalunha, que goza de ampla autonomia de Madri, fez uma proposta semelhante em 1998, mas recuou diante da oposição de donos de cinemas, distribuidoras de filmes e produtoras estrangeiras. "Eles dizem que é necessário que o governo crie uma regra, porque o setor privado não o faz", disse Camilo Tarrazón Rodón, presidente da Associação de Empresas de Cinema da Catalunha, que é contrária à lei.
O público dos cinemas decaiu nos últimos anos, ele disse, com exceção de um aumento no ano passado graças à chegada do digital e do 3D. "Os bancos não estão emprestando, as companhias têm problemas econômicos, e os jovens assistem a filmes nos celulares", disse Tarrazón. "Como podemos pagar por isso?"
Com o influxo de imigrantes na próspera Catalunha, a região vem lutando para manter o que considera sua alma catalã. A lei é apenas a última tentativa de reafirmar a cultura local e sua língua -que é semelhante ao espanhol, mas também ao francês eao italiano- e tem história, poetas e romancistas próprios.
Por lei, as crianças são escolarizadas em catalão.
O projeto de lei de filmes chega em momento de incerteza do governo de Madri, ante a crise econômica e o alto desemprego. Mas também salienta o curioso papel de Barcelona na cultura espanhola.
Estranhamente, Barcelona é a capital da indústria editorial do país, e aproximadamente três quartos de todos os livros comprados na região são em espanhol, disse Joan Manuel Tresserras, 55, ministro da Cultura catalão. A metade de todos os programas de rádio é transmitida em catalão, e a maioria das peças nos teatros da cidade, com exceção dos musicais, é no idioma local.
"Achamos que precisamos de uma cultura cinematográfica mais diversificada, um maior leque de oportunidades", ele disse.
O que as grandes produtoras de cinema disseram ao governo local é que elas acham que a ideia poderá se disseminar. "Elas temem que a Galícia ou o País Basco, ou mesmo a Bretanha ou a Córsega, na França, possam ser os próximos", disse Joan Antoni Gonzáles, 61, secretário-geral da Federação de Produtores Audiovisuais da Catalunha. O projeto de lei não afetaria os filmes que foram produzidos em espanhol, ou os filmes europeus se houver mais de 15 cópias em circulação -por isso, o grosso recairá sobre as produções americanas.
Alguns visitantes em Barcelona acham que a cidade é suficientemente cosmopolita para absorver qualquer língua.
"A maioria dos meus cursos é em espanhol, mas o curso de literatura americana é em inglês", disse Luigi Suardi, 23, estudante italiano em intercâmbio na Universidade de Barcelona. Ele disse que seus amigos falam uma mistura de espanhol e catalão. "As pessoas que moram em Barcelona não têm problemas" com a língua, ele disse, acrescentando: "É difícil para os países pequenos".


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