São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2010

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

A fantasia espacial da publicidade

Por DENNIS OVERBYE
Os anos de 1957 a 62 foram a era de ouro da ficção científica, e também da paranoia e do entusiasmo em escalas cósmicas. O futuro, na época, ainda era futuro. Alguns de nós sonhávamos com fazendas na Lua e com foguetes de barbatanas heroicas decolando em paisagens alienígenas. Outros temiam as bases lunares da Rússia.
Os cientistas debatiam se os robôs ou humanos deveriam explorar o espaço. Satélites e transistores eram emblemas reluzentes da tecnologia do pós-guerra, e estávamos prestes a desvendar os segredos do Universo e a domar o átomo (se ele não nos matasse antes).
Algumas das mais extravagantes dessas visões do futuro partiram de corporações dos EUA embelezando suas credenciais tecnológicas e recrutando talentos da engenharia numa época em que a disparada nos orçamentos de defesa e da Nasa havia criado uma corrida do ouro no espaço.
Nas páginas de revistas como "Aviation Week", "Missiles and Rockets" e até "Fortune", as empresas, algumas famosas e algumas hoje obscuras, apresentavam um catálogo de sonhos. Assim, por exemplo, a Republic Aviation, de Farmingdale, Nova York -"projetistas e construtores do incomparável Thundercraft"-, se gabava em 1959, na "Aviation Week and Space Technology", dos experimentos em jardinagem lunar que estava realizando para uma futura base da Força Aérea dos EUA na Lua. Ou a American Bosch Arma Corp. exibia, na "Fortune", sua "Borboleta Cósmica", um veículo movido a energia solar que poderia transportar cargas e passageiros pelo Sistema Solar.
A maioria dos americanos jamais viu tais invenções, mas elas agora foram reunidas e dissecadas pela historiadora Megan Prelinger, fanática por coisas do espaço, em "Another Science Fiction: Advertising the Space Race 1957-1962" ("Outra ficção científica: anunciando a corrida espacial 1957-62"). O livro sai nos EUA em 25 de maio pela Blast Books.
Prelinger e seu marido, Rick, mantêm em San Francisco a Biblioteca Prelinger, com ênfase em mídia, tecnologia e história da paisagem. Por e-mail, ela contou que cresceu "com uma dieta cultural de ficção científica e espaço" e com lembranças do pouso na Lua e de "Jornada nas Estrelas" se misturando em sua cabeça. "Por isso", afirmou, "cresci acreditando que eu era uma integrante júnior de uma avançada sociedade tecnológica".
O livro, disse ela, foi inspirado em um lote de velhas publicações que chegou à biblioteca. "Eu mal esperava que a publicidade nas suas páginas chamaria mais a minha atenção do que as próprias reportagens", escreve ela numa introdução.
Os anúncios estão repletos de energia modernista e de uma rica iconografia. O final da década de 1950 foi também a época do livro "Organization Man" ("Homem organização"). A capa, de um anúncio de seguros, mostra um homem num terno cinza, alarmado e intrigado entre os planetas e estrelas. De vez em quando, as montanhas e os vales da Lua, por exemplo, eram mostrados como se fossem montanhas, cânions e desertos do oeste dos EUA.
Em uma ilustração, as mãos de Deus e Adão, do teto da Capela Sistina, foram transformadas em um par de gigantescas luvas espaciais que se aproximam. Em outra, a silhueta de uma nave forma uma cruz. "Essas imagens sugerem que o maior alcance do que a humanidade esperava encontrar no espaço era na verdade a própria essência do infinito", escreve Prelinger.
É difícil saber com o que ser mais nostálgico: com todos aqueles sonhos infantis de uma ópera espacial, ou com o otimismo de uma era em que a imaginação e a tecnologia floresciam e que praticamente metade dos anúncios acabava com uma oferta para trabalhar na próspera empresa do futuro. "Para avançar profissionalmente, você deve se tornar membro de um desses times. Escreva para N.M. Pagan", diz uma nota da Martin Company, hoje parte da Lockheed Martin. É o tipo de coisa que não se ouve mais.
Na época, você também podia, sentado sobre uma prancheta ou num cubículo, desenhando antenas ou porcas, ser um herói espacial.


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