São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2010

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Após câncer, mulheres extirpam mama saudável

Em discussão, a eficácia de uma cirurgia invasiva

Por TARA PARKER-POPE
Defensores da saúde feminina vêm lutando há décadas para proteger mulheres contra cirurgias de câncer de mama desfiguradoras, argumentando que a retirada de apenas o tecido canceroso é tão eficaz quanto a remoção da mama inteira.
Hoje, porém, um número crescente de mulheres com câncer de mama vem impelindo cirurgiões em uma direção nova e assustadora. Não só querem que seja extirpada a mama cancerosa inteira, como também a mama saudável.
"Eu não queria mais ter que me preocupar com isso", explicou a diretora de arte Liliana Holtzman, 50, de Michigan, que teve as duas mamas extirpadas após receber o diagnóstico de câncer, cinco anos atrás. "Foi para minha paz de espírito."
A porcentagem de mulheres que pedem para que sejam extirpadas suas duas mamas depois de ser diagnosticado um câncer em uma delas mais que dobrou nos últimos anos. Ao todo, cerca de 6% das mulheres submetidas a cirurgias devido a câncer de mama em 2006 optaram pelo procedimento, conhecido como mastectomia profilática contralateral. Entre as mulheres na casa dos 40 anos submetidas a cirurgias por câncer de mama, 1 em cada 10 optou pela remoção das duas mamas, revelou um estudo da Universidade do Minnesota apresentado recentemente.
Surpreendentemente, a prática é mais popular entre mulheres que apresentam as formas mais precoces e curáveis de câncer. Entre as submetidas a cirurgia por carcinoma ductal in situ, às vezes chamado câncer de estágio 1 ou pré-câncer, o índice de mastectomia dupla subiu para 5,2% em 2005, contra 2,1% em 1998, segundo estudo publicado em 2009 no "Journal of Clinical Oncology".
Mulheres que têm risco genético conhecido de câncer de mama podem reduzir suas chances de desenvolver a doença se tiverem as duas mamas extirpadas. Mas, para a maioria das mulheres que recebem diagnóstico de câncer de mama, a remoção de uma mama saudável não melhora as chances de sobrevida.
Um novo estudo publicado no "Journal of the National Cancer Institute" reviu os dados relativos a 108 mil mulheres submetidas a mastectomia, incluindo 9.000 que optaram pela extirpação de uma mama saudável. A conclusão do estudo é que, para a maioria das mulheres, a retirada de uma mama saudável após um diagnóstico de câncer não tem efeito sobre sua sobrevida de longo prazo.
O estudo constatou só um aumento leve nas chances de sobrevida num subconjunto pequeno de pacientes -mulheres com menos de 50 anos que apresentam tumores receptores de estrógeno negativos em sua fase inicial, que não reagem a drogas redutoras do risco.
"Muitas pacientes têm me pedido [a extirpação das duas mamas]", disse Isabelle Bedrosian, oncologista em Houston e autora do novo estudo. "Parte da razão pela qual as mulheres estão com medo é que não temos lhes dado informações suficientes. Minha esperança, com esse estudo, é transmitir à maioria das pacientes com câncer de mama que elas podem ficar tranquilas em não fazer essa opção."
Os dados causam confusão, porque um diagnóstico de câncer de mama ou carcinoma ductal in situ realmente encerra um risco ligeiramente maior (entre 0,6% e 1% ao ano) de surgimento de um câncer novo e não relacionado na segunda mama -embora muitas mulheres pensem, equivocadamente, que isso significa que o câncer "se alastrou" ao outro seio. E, devido aos exames mais cuidadosos e frequentes feitos pelas mulheres que sobreviveram a um câncer de mama, é mais provável que um segundo tumor seja detectado em fase mais precoce e mais curável. Por isso, o risco maior de um segundo câncer não implica em risco maior de morte.
Médicos dizem que o risco maior para uma mulher não é o de um câncer futuro, mas do alastramento potencial de um câncer que ela já tem. A remoção da segunda mama saudável não modifica essa chance.


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