São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2010

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Enriquecer urânio fica mais fácil

Teme-se que o Irã obtenha combustível em grau de bomba

Por WILLIAM J. BROAD
No deserto iraniano, em um complexo cercado por arame farpado e armas antiaéreas, uma mudança no enriquecimento de urânio tem produzido temor global porque poderia encurtar o caminho do Irã para a aquisição de armas nucleares.
Também ilustra uma das peculiaridades do enriquecimento de urânio: o delicado processo se acelera conforme avança. "Quanto mais alta a concentração, mais fácil fica", disse Houston Wood 3?, professor de engenharia mecânica e aeroespacial da Universidade da Virgínia, especializado em enriquecimento nuclear.
O processo é não linear, dizem os cientistas.
Quatro anos atrás, o Irã começou a enriquecer urânio em escala industrial com centrífugas, máquinas que giram com uma velocidade extraordinária para separar o urânio 235 da forma mais comum do elemento, o urânio 238. O urânio 235 é uma raridade natural que se divide facilmente em dois, ou entra em fissão, em explosões de energia atômica, seja em um reator ou uma bomba. O combustível em grau de reator geralmente é definido como urânio 235 de cerca de 4% ou 5%, e o grau de bomba, em 90% ou mais alto.
O complexo no deserto, a instalação nuclear de Natanz, elevou o nível do urânio 235 de sua concentração natural de 0,7% para cerca de 4%. Com o tempo, a instalação produziu 2 toneladas de material concentrado, o suficiente, se for mais enriquecido, para fabricar cerca de duas bombas atômicas.
Em 7 de fevereiro, o Irã anunciou que começaria a enriquecer seu urânio armazenado a 20% -declaradamente para produzir combustível para um reator de pesquisa em Teerã. Especialistas nucleares dizem que avançar de 4% para 20% é, na verdade, um passo bastante fácil -não tão exigente e demorado quanto passar do grau de 0,7% para 4%.
Em termos científicos, a questão é a "não linearidade". Em um processo não linear, um determinado insumo (input) gera um resultado (output) desproporcional em tamanho, seja grande ou pequeno. O clima é claramente não linear: pequenas alterações em uma região produzem tempestades mortíferas em outras. A palavra descreve a desigualdade de causa e efeito.
Uma ilustração prática da não linearidade é que o Irã precisa de cada vez menos centrífugas para produzir um urânio 235 cada vez mais potente. O motivo é que "você movimenta muito mais material em níveis menores de enriquecimento", disse David Albright, presidente do Instituto para Ciência e Segurança Internacional, grupo privado de Washington. "É a redução do material" que torna o processo gradualmente mais fácil.
As centrífugas que giram em alta velocidade pequenas quantidades de urânio gasoso são usadas para separar as diferentes formas do elemento, ou isótopos, começando com material que consiste em 99,3% do urânio 238 mais pesado. A cada etapa, mais urânio pesado é removido, e o material restante, agora com uma maior concentração do isótopo mais leve, passa novamente pelo processo de centrifugação.
O minério de urânio tem cerca de 140 átomos do isótopo pesado para cada 1 leve, e separar os dois exige muita centrifugação. Quando o processo de enriquecimento atinge 4%, removeu com sucesso parte dos 115 átomos mais pesados.
Para chegar a 20%, as centrífugas precisam remover apenas mais 20 átomos pesados. E, a partir daí, é ainda mais fácil saltar para 90%, o grau de bomba, removendo aproximadamente outros quatro átomos pesados. É isso que preocupa muitos países.
Originalmente, o Irã enriqueceu seu urânio a 4% com milhares de centrífugas. O centro desse novo esforço, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica, é uma instalação em Natanz conhecida como usina piloto, onde o Irã tem atualmente 164 centrífugas. Mesmo com a ajuda da não linearidade, esse número é insuficiente para enriquecer muito urânio rapidamente. E o material enriquecido deve ser transformado em bastões de combustível para reatores.
"Não acreditamos que o Irã tenha o conhecimento técnico ou os direitos de propriedade intelectual" para fabricar os bastões de combustível, disse Catherine Ashton, chanceler da União Europeia.

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