São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2010

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Filme retrata a vida de jovens pioneiras do rock

A história de uma banda que abriu caminho a Madonna

Por SIA MICHEL
O que mais chama a atenção em "The Runaways", novo filme sobre a pioneira banda de "bad girls" dos anos 1970 que pariu Joan Jett, é seu clima autêntico. As casas noturnas são sujas. Os diálogos são recheados de palavrões. Desde a injeção de adrenalina das apresentações até o tédio dos ensaios, o filme é um instantâneo vívido da vida na estrada do rock para teens cheias de ambição que ouvem constantemente que o rock'n'roll "é esporte de homens".
Uma razão disso pode ser o fato de o filme ser parcialmente baseado em "Neon Angel: A Memoir of a Runaway", autobiografia recém-reeditada da vocalista do grupo, Cherie Currie, cuja autodestruição rápida é revivida pela atriz Dakota Fanning. Outra talvez seja o fato de Currie e a guitarrista Joan Jett (representada por Kristen Stewart) terem submetido as atrizes a um treinamento em hard rock nas semanas antes das filmagens. E Floria Sigismondi, a roteirista e diretora, "passou a vida inteira mexendo com música", segundo ela. Além de fazer clipes para artistas como David Bowie e White Stripes, ela já viajou em turnê com a banda de seu marido, The Living Things.
"Eu queria que tudo fosse muito real. Queria sardas e espinhas", disse ela, falando do filme, seu primeiro longa. As palavras que ela não parava de repetir no set eram "sujo" e "intransigente".
Embora "The Runaways" siga a trajetória geral da banda, Sigismondi considera o filme mais uma história sobre o amadurecimento das integrantes da banda que uma biografia definitiva, focando sobretudo o relacionamento entre Cherie, Joan e o empresário Kim Fowley (Michael Shannon), que disparava insultos constantes. No filme, Cherie lida com sua irmã gêmea, com seu pai alcoólatra e doente, com uma dependência química e com a notoriedade instantânea.
"É uma história cautelar, da parte de Cherie, e inspiradora, do lado de Joan", disse a diretora (depois de a banda ter se desfeito, em 1979, Joan Jett fez sucesso com um cover de "I Love Rock 'n' Roll", em 1982).
Dakota Fanning disse que o que a atraiu no papel de Cherie foi o mundo anárquico habitado pelas Runaways. "Sempre trabalhei no cinema, onde há autoridades e normas regendo tudo", disse ela. "E ali estavam as Runaways, sem regra nenhuma, passando tanto tempo na estrada sem qualquer supervisão, fazendo as coisas à maneira delas."
Embora fossem músicas talentosas, elas frequentemente eram desprezadas, tachadas pela imprensa de rock dos anos 1970 de grupo manufaturado e apelativo e menosprezadas por músicos homens, mesmo aqueles com quem se apresentavam. "A atitude era que as mulheres não sabiam fazer rock'n'roll", disse Currie, que entrou para a banda aos 15 anos. "Éramos uma ameaça real."
Contratadas as atrizes, começaram as aulas de rock. Elas aprenderam a usar os instrumentos de suas personagens, e Dakota Fanning e Kristen Stewart estudaram para cantar exatamente como as mulheres que estavam representando. "Na primeira vez em que ouvi uma fita de Kristen cantando 'I Love Playing With Fire', pensei que fosse eu", disse Joan Jett.
Cherie Currie espera que o filme leve o legado da The Runaways a ser revisto ("na primeira vez em que vi Madonna de corpete, falei 'ei, eu fiz isso antes'", disse ela). O status pioneiro da banda com frequência é minimizado na história da música, apesar de Joan Jett ter virado roqueira de sucesso com o grupo Blackhearts, na década de 1980, e símbolo feminista. Lita Ford, a guitarrista principal, virou guitarrista de heavy metal.
Depois de aventurar-se como atriz e ter passado por terapia para livrar-se da dependência química, Cherie Currie talvez seja a ex-Runaway que hoje tem a carreira pós-banda mais apropriada de todas: é escultora em madeira, esculpindo com serra elétrica. "Somos apenas eu, uma tora e a serra", disse ela.
"E não há ninguém me dizendo o que fazer."


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