São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2010

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Bollywood se aproxima de Hollywood

Por ANUPAMA CHOPRA
MUMBAI - Há pouca coisa em "Kites" que lembre "A Hora do Rush". Extravagante thriller romântico de Bollywood, "Kites" tem o astro indiano Hrithik Roshan e a atriz mexicana Barbara Mori nos papéis de amantes improváveis que não falam a língua um do outro e acabam em fuga no Novo México.
Mas, em outubro passado, quando o diretor Brett Ratner assistiu a uma versão inacabada do filme em Los Angeles, ele identificou em "Kites" alguns ecos de "Hora do Rush", o sucesso que dirigiu e que foi estrelado por Jackie Chan e Chris Tucker. "Eram dois personagens que eram peixes fora d'água", disse Ratner, "só que, desta vez, eles são um indiano e uma mexicana. Não estou dizendo que 'Kites' fará o mesmo sucesso que 'Hora do Rush', mas senti que o filme tem o potencial de atrair o público americano".
Ratner, então, ofereceu-se para reeditar "Kites" e torná-lo mais acessível ao grande público dos EUA.
Com Mark Helfrich, seu editor na série "Hora do Rush", Ratner enxugou o filme de 118 minutos de duração, deixando-o com 90 minutos. Ficaram de fora alguns dos elementos "intraduzíveis", segundo o diretor.
A versão original de "Kites" em hindi e a versão retrabalhada por Ratner, falada em inglês, serão lançadas em todo o mundo em 21 de maio.
"Para mim, trata-se de romper barreiras", disse Roshan. "A meta maior, o sonho maior, é termos um filme indiano que seja visto pelo mercado mundial."
Bollywood já tem audiência anual estimada em mais de 3 bilhões de pessoas no mundo. O sul da Ásia é consumidor ávido dos filmes indianos, assim como o são os espectadores de países tão diversos quanto Alemanha, Malásia e Coreia do Sul. Mas o maior mercado de cinema do mundo, os EUA, tem se mostrado em grande medida indiferente às atrações do canto e da dança indianos.
"Há essencialmente dois tipos de público no Ocidente: o de massas e o de nicho", comentou o documentarista Nasreen Munni Kabir. "O público de massas quer filmes em inglês, com astros conhecidos e tramas já familiares. O público de nicho, acostumado ao cinema mundial, aceita filmes um pouco mais longos, legendados e com atores desconhecidos. Mas esses filmes precisam refletir uma realidade cultural, política e social de seu país. Por sua própria natureza, os filmes de Bollywood não se enquadram em nenhuma dessas categorias."
Essa situação começa a mudar, graças em parte ao espantoso sucesso de "Quem Quer Ser Um Milionário".
Outro fator que vem ajudando é que a definição de Bollywood vem se flexibilizando: deixou de ser um estilo monolítico caracterizado por estrelas, canções e melodrama, passando a abranger algo mais. Novos cineastas têm modificado o formato tradicional, de modo que o cinema falado em hindi hoje também abrange filmes sem canções e com raízes em realidades indianas contemporâneas.
Mesmo cineastas de renome têm rompido barreiras. No recém-lançado "My Name is Khan", o diretor Karan Johar abriu mão das canções e da emotividade alegre, debruçando-se sobre um tema mais duro: a situação dos muçulmanos americanos após o 11 de Setembro.
Filmes menores e mais intransigentes falados em hindi têm marcado presença nos festivais. Em janeiro, a comédia negra "Peepli Live", que trata de suicídios de agricultores na Índia central, tornou-se o primeiro filme em hindi a competir em Sundance. Em fevereiro, "Peepli Live" foi exibido no Festival de Berlim, ao lado de outro candidato a migrar para um público maior: "Road, Movie".
É pouco provável que qualquer um desses filmes faça o sucesso de "Milionário", mas espera-se que consigam crescer nos EUA. Rakesh Roshan, o produtor de "Kites", manifestou otimismo cauteloso. "Ainda não conseguimos fazer um 'O Tigre e o Dragão', porque para isso é preciso coragem e visão", disse.
"Talvez 'Kites' não funcione, mas avançamos um passo, pelo menos."


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