São Paulo, segunda-feira, 22 de junho de 2009

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VIDA COTIDIANA: RELACIONAMENTOS

Elas amam seus netos, mas não querem servir de babás

Por JOANNE KAUFMAN

Para cada avó como Marian Robinson -mãe de Michelle Obama-, que no ano passado se aposentou do emprego para cuidar em tempo integral de suas netas, Malia e Sasha, há uma como Judy Connors, que ama seus dois netos mas não se interessa por jogos infantis ou por contar histórias na hora de dormir.
"Quando ouvi sobre a avó da família Obama, pensei que talvez também gostasse de me mudar para a Casa Branca", disse Judy, 67. "Mas eu contrataria alguém para cuidar das crianças."
Sua filha, Catherine Connors, 38, é escritora residente em Toronto, Canadá, e tem plena consciência da atitude de sua mãe. Sempre que ouve falar em famílias em que os avós adoram ajudar a cuidar dos netos, ela pensa: "Isso é tão diferente da minha vida".
Não é novidade ver mães jovens que ficam surpresas e magoadas, talvez sem justificativa, quando descobrem que suas mães não vêm correndo para servir de babás. Mas histórias sobre avós que cuidam de netos, como a história que veio da Casa Branca, podem trazer esses sentimentos à tona -com força.
"Alguns pais provavelmente não têm uma expectativa realista sobre o grau em que seus próprios pais devem se envolver com os netos", disse a psiquiatra Gail Saltz, de Manhattan. "Mas, como os filhos da geração atual ocupam o centro de seu universo, é difícil deixar de levar a mal a reação dos avós do tipo 'por que eu deveria me dar a esse trabalho?'."
Susan Shapiro Barash, professora de estudos de gênero na Faculdade Marymount Manhattan, em Nova York, disse que mulheres que têm filhos pequenos procuram orientação de suas mães e sogras, mas frequentemente, hoje em dia, procuram em vão. As avós muito modernas "sentem que já cumpriram seu trabalho", explicou Barash. "Elas se dedicaram a seus próprios filhos, abrindo mão de sua liberdade, e não querem repetir o processo com os netos."
Catherine Connors contou que, antes do nascimento de sua primeira filha, Emilia, há três anos, sua mãe avisou: "Falou que não estava interessada em fazer as vezes de babá. Disse que viria visitar, mas que não gostava de recém-nascidos."
Judy Connors viajou de avião de sua casa, na Colúmbia Britânica, EUA, para Toronto uma semana após o nascimento de sua neta. "Era evidente que ela estava entediada", disse sua filha. "Ela ficava muito tempo sentada na sala, enquanto eu me esforçava para descobrir como amamentar. Ela dizia 'não sei por que você não dá mamadeira para ela, simplesmente', e então saía para a sacada para fumar um cigarro."
Judy Connors, aposentada que trabalhou como diretora de um programa de tratamento residencial para adolescentes, defendeu-se. "Criei dois filhos que amo profundamente", disse. "Fui uma mãe que ficou em casa para cuidar deles. Então, quando comecei a ter minha carreira, descobri que havia todo um outro mundo lá fora."
Há muitas razões pelas quais avós podem optar por minimizar seus papéis. Para a psicóloga Susan Newman, "alguns podem ficar inseguros em cuidar de um netinho recém-nascido, mas não querem admitir o fato. Talvez não se sintam à vontade levando seu neto querido para uma aula ou um treino".
Ou, então, eles podem ter outras prioridades. "Muitas avós são viúvas ou divorciadas. Elas podem estar namorando e podem querer priorizar suas vidas amorosas, e não seus netos", explicou Barash, a professora de estudos de gênero.
Judy Connors disse que sua atitude distante "não significa que eu não ame meus netos -quer dizer apenas que tenho uma vida própria que não gira em torno deles".


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