São Paulo, segunda-feira, 22 de novembro de 2010

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LENTE

Universitários nos EUA têm vida boa

De acordo com relatório do Instituto de Educação Internacional, quase 700 mil estudantes de outros países -número recorde- estavam matriculados em faculdades e universidades americanas no ano passado. E quem não gostaria de fazer o mesmo, quando a vida estudantil parece estar mais fácil hoje em dia -para melhor ou para pior?
No passado, o primeiro obstáculo surgia já no início do primeiro ano da faculdade, quando os estudantes enfrentavam a necessidade de viver com um colega de quarto que lhes era designado e com quem não tinham nada em comum. Tolerar hábitos irritantes, visões políticas divergentes e mudanças radicais de humor pode ensinar lições que ajudam no mundo real. Mas, para uma geração narcisista e que se cuida com esmero, a meta é a harmonia perfeita. As universidades vêm fechando contratos com empresas de busca de parceiros, como URoomSurf.com, Lifetopia e RoomBug, nas quais os estudantes preenchem um questionário e, então, recebem uma lista de calouros compatíveis com eles.
"Você vive em proximidade muito estreita com a outra pessoa. Se eu tivesse que conviver com alguém por um ano, gostaria de ter a certeza de saber antes quem é a pessoa", disse ao "New York Times" Jenny Jakubowski, que recorreu ao URoomSurf antes de estudar na Universidade Syracuse, no Estado de Nova York.
Mais de 80 mil estudantes de 700 faculdades já se inscreveram desde que foi aberto.
Há quem pense que o processo adia o amadurecimento. "Em pouquíssimo tempo, os universitários conseguem formar panelinhas fechadas, cujos membros eles mesmos escolhem, nas quais suas opiniões são reforçadas", disse ao jornal o professor de sociologia Dalton Conley, da Universidade de Nova York.
Para o caso de os estudantes ainda não estarem à vontade, as faculdades estão deixando os alunos trazerem seus animais. "Os estudantes têm cada vez mais dificuldade em sair de casa", disse ao "Times" a reitora do Stephens College, Dianne Lynch.
As faculdades reconhecem que essas táticas também representam maneiras de elas se diferenciarem em um mercado competitivo em que os melhores estudantes são disputados.
O mercado de trabalho também é competitivo, e, para fazer os alunos parecerem mais atraentes, algumas faculdades vêm inflando suas notas. De acordo com o "Times", pelo menos dez escolas de direito modificaram seus sistemas de avaliação nos últimos dois anos, tornando-os mais lenientes.
"Quando alguém está pagando US$ 150 mil por um diploma de escola de direito, você não quer que a pessoa chegue até o final e seja chamada de perdedora", disse ao jornal o ex-professor universitário Stuart Rojstaczer, que estuda a inflação de notas. "A opção é considerar artificialmente que todos os estudantes se saíram bem."
Mesmo esse caminho caro e excludente para o sucesso parece ter se tornado uma disputa aberta a todos, onde, talvez, a única coisa necessária para participar seja um pijama. Estudantes pagam mais de US$ 50 mil por ano para cursar a seletiva Escola Sloan de Administração do M.I.T. Mas outros podem acompanhar as aulas on-line, gratuitamente, por meio da OpenCourseWare, organização de 250 instituições espalhadas pelo mundo que posta cursos on-line de diversas línguas como chinês, holandês e japonês.
As universidades de Harvard, Yale e Stanford já oferecem uma grande parcela de seus cursos on-line. No Reino Unido, a Open University chega a ter seu canal próprio no YouTube. A própria ideia de universidade se tornou aberta, separada em partes, no estilo "faça você mesmo" e sem pares -e talvez um pouco mimada.


ANITA PATIL
Envie comentários para nytweekly@nytimes.com.




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