São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Próximo Texto | Índice

Solar e eólica? Não. A Exxon quer mesmo é perfurar

Por JAD MOUAWAD

Seis anos de preços em alta deram lucros recordes ao setor petrolífero, ainda que repentinas alterações nos custos energéticos tenham deixado muitos americanos alternadamente furiosos e perplexos.
Agora que essa montanha-russa parece frear, um gigante corporativo segue confiante de que poderá suportar a desaceleração e a incerteza melhor do que os seus rivais.
"Não é que gostemos de preços baixos, mas nossa vantagem competitiva é mais óbvia em um ambiente de baixo preço", diz Rex Tillerson, presidente e executivo-chefe da ExxonMobil, a maior e mais poderosa empresa mundial do petróleo. "Mas com o alto preço a nossa vantagem competitiva também era bastante evidente."
Por mais destemida que seja, a Exxon ainda enfrenta cenários mais complicados do que a mera queda nos preços -cenários que despertam questões incômodas sobre sua estratégia de longo prazo. Reservas petrolíferas são difíceis de encontrar, governos com países ricos em recursos estão cada vez mais assertivos, e a preocupação com o aquecimento global gera apelos incisivos por ações ambientais. E a eleição de Barack Obama nos EUAprenuncia um novo capítulo na política energética do país. Obama defende uma menor dependência em relação ao petróleo estrangeiro, e suas políticas devem enfatizar a preservação ambiental, as fontes energéticas alternativas e novos limites às emissões de gases do efeito estufa.
A questão para a Exxon, apontada por Obama na campanha eleitoral como exemplo de ambição corporativa, é se o modelo que serviu tão bem à empresa por tanto tempo irá mantê-la competitiva -ou se ela continuará produzindo hidrocarbonetos quando o mundo já tiver se afastado dos combustíveis sujos.
No ano passado, a Exxon celebrou o seu 125° aniversário, marcando uma linhagem que a vincula à Standard Oil Trust, de John Rockefeller, dissolvida pelo governo em 1911. Enquanto outras empresas do petróleo buscam parecer mais "verdes", os executivos da Exxon acreditam que o seu venerável modelo já está testado e aprovado. O mantra da empresa é inabalável: honestidade brutal sobre a necessidade de petróleo e gás para alimentar a economia pelas próximas décadas.
"Houve muitas previsões de que nosso setor estava nos seus anos crepusculares, e isso sempre se provava errado", diz Tillerson. "Como diria Mark Twain, as notícias sobre o nosso falecimento foram enormemente exageradas."
Do ponto de vista puramente financeiro, não há dúvida de que a estratégia empresarial da Exxon é vantajosa. Apesar da crise, ela vale cerca de US$ 375 bilhões -mais do que a General Electric, o Bank of America e o Google juntos-, o que a torna a maior corporação do planeta. Desde 2004, a empresa acumula lucros de cerca de US$ 180 bilhões.
"Ser a Exxon é nunca ter de pedir desculpas", diz Kert Davies, diretor de pesquisas da ONG ambiental Greenpeace, que há anos enfrenta a Exxon. O "jeito Exxon" pode ser resumido em três ideais: disciplina, paciência e visão de longo prazo. É uma fórmula que a empresa injeta em seus gestores assim que eles são contratados.
Os rivais da empresa admitem sua capacidade nos campos de petróleo, mas se enfurecem com o que vêem como arrogância. "Quem trabalha com a Exxon conhece as regras", disse um importante executivo do setor, pedindo anonimato. "A Exxon pode escolher as suas batalhas. É uma estratégia bastante boa se as pessoas sabem que você vai lutar até o final."
Há abundantes exemplos dessa determinação. Depois de a Exxon convencer um tribunal britânico a congelar US$ 12 bilhões em bens do governo venezuelano, para contestar uma medida que a empresa considerava uma expropriação, o ministro do Petróleo da Venezuela acusou a companhia de praticar "terrorismo jurídico".
Preços altos significam lucros estratosféricos, é claro, mas também levam a mais restrições no acesso a campos de petróleo em todo o mundo, dificultando que as empresas ampliem sua produção e substituam reservas.
Na década de 1960, as chamadas Sete Irmãs, entre elas a Exxon e a Mobil, controlavam a maior parte das reservas petrolíferas mundiais. Hoje, estatais como a saudita Aramco controlam a maioria das reservas, enquanto outros detentores de recursos, como Rússia e Venezuela, se tornam cada vez mais restritivos.
"As grandes do petróleo estão vendo um mundo muito diferente de 20 anos atrás", disse Henry Lee, conferencista de política energética na Universidade Harvard. "Isso tem grandes implicações para o futuro dessas empresas. Todas sabem disso, e todas estão tentando entender onde estarão dentro de 10 a 20 anos."
Numa reunião com analistas em março, Tillerson admitiu a dificuldade que enfrenta: "O desafio que temos hoje é continuar a ter acesso aos recursos", disse. Desde 1999, a Exxon gastou cerca de US$ 125 bilhões na busca por novas fontes energéticas no mundo. Ela pretende iniciar mais de 60 grandes projetos até 2011, inclusive dezenas de campos marítimos no oeste da África, terminais de exportação para gás natural liquefeito no Oriente Médio e diversos investimentos em gás e petróleo em Austrália, Indonésia, EUA e mar Cáspio.
Mesmo assim, as ações da Exxon se encaminham para o seu pior desempenho desde o começo da década de 1980, como resultado do mercado "vendedor", e da recente redução do valor do petróleo. Mas alguns analistas dizem que isso reflete também dúvidas sobre o futuro.
"A Exxon é uma máquina de dinheiro e poderia estar usando esse dinheiro para investir em tecnologias limpas que ampliariam sua base", disse Andy Stevenson, analista de energia do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais. "Atualmente, eles não têm uma história para crescer. Estão presos ao petróleo e ao gás."
No limite, o maior teste para o modelo empresarial de longo prazo da Exxon é o fato de que o aumento do uso da energia "seja nos EUA ou na China" terá de ser conciliado com a redução das emissões de carbono.
Mas poucos assuntos são tão delicados quanto a posição da Exxon a respeito da mudança climática.
Apesar da crescente pressão para que as empresas de petróleo invistam em energias alternativas, a visão de longo prazo da Exxon continua orgulhosamente atada aos combustíveis fósseis. Sua crença é que o crescimento econômico dos países em desenvolvimento levará seus habitantes a desejarem confortos considerados óbvios em países industrializados e que isso significará mais carros nas ruas -e mais petróleo para movê-los.
Enquanto isso a energia solar, a eólica e os biocombustíveis devem crescer aceleradamente, mas ainda assim vão representar menos de 2% da matriz energética mundial até 2030, segundo a Exxon, contra 80% de petróleo, gás e carvão. "Até meados do século, o mundo vai continuar dependendo predominantemente dos hidrocarbonetos para alimentar sua economia", diz Tillerson.


Próximo Texto: Baixos preços paralisam exploração energética
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.