São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

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Baixos preços paralisam exploração energética

Por JAD MOUAWAD

Das planícies de Dakota do Norte até as águas profundas do Brasil, dezenas de grandes projetos de exploração de petróleo e gás foram adiados ou cancelados nas últimas semanas, à medida que as empresas se adaptam ao colapso nos mercados energéticos.Em meados deste ano, o galão (3,78 litros) de gasolina chegou a US$ 9 em vários países europeus e US$ 4 nos EUA. Esses preços agora são US$ 6 na Europa e US$ 2 nos EUA. No curto prazo, a queda do preço alivia os donos de automóveis.
Mas os adiamentos e cancelamentos de projetos petrolíferos devem reduzir o suprimento energético futuro -o que poder preparar o cenário para outra alta grande no preço do petróleo, quando a economia global se recuperar.
O mercado petrolífero assistiu a suas altas mais acentuadas e quedas mais vertiginosas neste ano, em poucos meses. A volatilidade extrema do mercado está dificultando ainda mais o planejamento do setor energético. A conseqüência é o corte dos gastos com exploração.
A queda vertiginosa nos preços verificados desde meados do ano, após sete anos de alta, serviu de lembrete de que o petróleo, bem como a maioria das commodities, é um negócio cíclico. Quando demanda e preços caem, as empresas reduzem seus investimentos, o que leva o fornecimento a diminuir. Se a demanda é retomada, os preços voltam a subir, e as empresas começam a investir em nova produção.
Por mais familiar que possa soar esse padrão, desta vez as mudanças estão acontecendo com rapidez recorde. Em junho, alguns analistas previam que o barril de petróleo chegaria a custar US$ 200, e empresas vasculhavam o mundo à procura de novos lugares para perfurar; agora, ninguém sabe até onde os preços podem cair.
"É um ciclo clássico, mas extremamente dramático", comentou Daniel Yergin, presidente da Associação de Pesquisas Energéticas Cambrigde. "O preço caiu tanto e em tão pouco tempo que isso provocou um choque no sistema de fornecimento."
A lista de projetos adiados só aumenta. Poços de petróleo estão sendo fechados por todos os EUA; a construção de novas refinarias foi adiada em Arábia Saudita, Kuait e Índia; e ambiciosas perfurações marítimas na África estão sendo revistas.
Fontes de energia alternativa, como os biocombustíveis, que vinham crescendo nos últimos anos, podem ver seus investimentos secarem se os preços se mantiverem baixos nos próximos anos, disseram analistas. Os bancos estão relutando em conceder crédito, especialmente para projetos de energia renovável que podem ser pouco rentáveis.
O analista Peter Jackson, da Cambridge, prevê que esses atrasos podem reduzir o suprimento global de combustível em 4 milhões de barris por dia nos próximos cinco anos. Isso equivale a 5% do fornecimento petrolífero atual.
Uma razão pela qual os projetos estão sendo fechados tão rapidamente é que os custos da indústria, que subiram nos últimos anos, continuam altos, apesar da queda nos preços do petróleo. Muitas empresas estão esperando esses custos caírem antes de decidirem se levam adiante novos projetos.
"Desde meados do ano, o mercado global virou de ponta-cabeça", disse num relatório a Agência Internacional de Energia. Nesse ambiente de incerteza, a desaceleração nos gastos é inevitável, dizem executivos da área. Em 2007, os gastos com exploração e produção chegaram a US$ 329 bilhões, segundo a consultoria PCF Energy. É certo que essa cifra vai diminuir.
Marvin Odum, vice-presidente de exploração e produção da Shell nas Américas, afirmou: "Estamos num momento de enfraquecimento". Mas, assim que a economia retomar seu ritmo, disse ele, "o desafio energético vai ressurgir com mais força".
A Agência Internacional de Energia projeta uma queda real na demanda mundial neste ano pela primeira vez desde 1983. Há tanto petróleo excedente no mundo que algumas companhias, inclusive a Shell, estão usando navios petroleiros para armazená-lo. Para o Merrill Lynch e outros, se a economia chinesa sofrer um desaquecimento dramático no próximo ano, algo que se configura como provável, o barril de petróleo pode cair para menos de US$ 30.
Os maiores cortes em planos de perfuração até agora têm sido nos projetos de óleo pesado do Canadá, onde se concentra parte da produção mais cara do mundo. Alguns operadores nessa região precisam de petróleo a mais de US$ 90 o barril para poderem dar lucros. A norueguesa StatoilHydro abandonou recentemente um projeto de US$ 12 bilhões no Canadá em função da queda nos preços.
Mas para fazer frente ao crescimento da população global e a riqueza crescente prevista para as próximas décadas, o mundo terá que investir US$ 12 trilhões para aumentar seu suprimento de petróleo e gás natural, segundo a Agência Internacional de Energia.
"Se reduzirmos dramaticamente os investimentos, o crescimento da oferta pode ficar estagnado no momento em que a economia inicie sua recuperação", disse Jackson. "Quanto maior o declínio, mais acentuada será a resposta."


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