São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

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Queda na terceirização preocupa a Índia

Por JEREMY KAHN

BANGALORE, Índia - Depois de anos ouvindo acusações sobre o desemprego nos EUA e em outros lugares, as empresas de alta tecnologia e as firmas de terceirização na Índia estão passando por sua própria fase de declínio. A desaceleração global as está obrigando a cortar as contratações, congelar salários, adiar novos investimentos e demitir milhares de programadores de software e operadores de call centers.
Enquanto algumas fontes da indústria insistem que a crise global na verdade vai beneficiar as companhias indianas, pois as empresas ocidentais tentam reduzir custos transferindo empregos ao exterior, neste momento o setor está subitamente preso à uma sensação de incerteza.
"Certamente não é a exuberância irracional", disse Nandan Nilekani, co-presidente da Infosys, uma das mais conhecidas firmas de terceirização de tecnologia da Índia. "Há muita introspecção sobre o que isto significa e quando vai terminar."
A recessão está expondo uma preocupação mais profunda: a Índia tornou-se o balcão de atendimento do mundo, organizando as ligações de serviços dos consumidores, e seu escritório dos fundos, ajudando a processar pagamentos e sistemas de contabilidade e outros de informática. Mas ainda não se tornou o escritório central -não fabrica novos produtos, não lança técnicas de marketing nem ajuda a moldar a estratégia corporativa.
"Historicamente, quando se trata de inovação, as companhias indianas são relativamente fracas em comparação com as IBMs e Accentures do mundo", disse Partha Iyengar, diretor de pesquisas na Índia para o Gartner Group, que analisa tendências no setor de tecnologia. "Esse é seu calcanhar-de-aquiles crônico."
Muito antes do choque dos ataques terroristas que paralisaram Mumbai, a capital comercial da Índia, o país sofria os efeitos da desaceleração global. Vinha perdendo capital enquanto os investidores ocidentais fugiam para a segurança dos títulos do Tesouro americano, minando os balanços de bancos e empresas indianos.
A Infosys recentemente revisou suas projeções para este ano, dizendo aos investidores que agora espera uma expansão das receitas de 13% a 15%, em vez dos 19% a 21% que havia previsto e muito abaixo dos 30% anuais a que estava acostumada.
Como muitas empresas de terceirização da Índia, a Infosys é muito dependente do setor financeiro, extraindo um terço de sua receita de bancos como Citigroup, Bank of America e outros clientes financeiros. Seu destino também está intimamente ligado ao da economia americana: dois terços de seus negócios vêm dos EUA. Nenhum desses fatores é positivo para as perspectiva da empresa.
A Technology Partners International, uma consultoria que publica um índice de negócios de terceirização globais, diz que seu índice está no pior nível em dez anos. "As pessoas acham que a indústria de terceirização é à prova de recessão. Não é", disse Siddharth Pai, um ex-sócio da firma.
Essa percepção mudou o clima de pujança desta cidade. Em um país onde a maioria dos casamentos é arranjada pelos pais, a recessão cobrou um preço até das perspectivas conjugais dos que estão no setor de terceirização tecnológica. "Como não há garantias de emprego para o pessoal de TI, nos últimos seis meses as famílias das noivas não têm aceitado pretendentes desse setor", disse Jagadeesh Angadi, consultor matrimonial de Bangalore.
Mas os líderes empresariais da Índia vêem oportunidade nesse declínio. "Quando as coisas se assentarem, as pessoas vão começar a examinar suas operações comerciais para torná-las mais eficientes, e é aí que entramos em cena", disse Nilekani.
Isso poderá chegar tarde demais para trabalhadores como Vikram Hathwar, 22. Em julho, o engenheiro se formou em uma faculdade técnica com uma oferta de emprego de um desenvolvedor de software. Mas em vez de começar a trabalhar -recebendo quase US$ 6 mil por ano, um bom salário inicial neste país-, Hathwar está esperando uma carta da empresa dizendo quando ele deve se apresentar. "Disseram que vão me chamar, mas ainda não me informaram quando", disse Hathwar.
Enquanto isso, ele começou a procurar empregos temporários. "A recessão causou muita pressão sobre nós", ele disse. "É muito confuso saber o que fazer."


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