São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

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Chile tenta reabilitar a lucrativa indústria do salmão

Por ALEXEI BARRIONUEVO

Quando um vírus devastador dizimou os famosos salmões do Chile, no ano passado, algumas das maiores empresas de criação do peixe demitiram milhares de empregados, fecharam suas operações e se transferiram para águas ainda impolutas mais ao sul na costa chilena. Mas o vírus as acompanhou.
Em janeiro, o governo chileno começou a traçar medidas mais duras para melhorar as condições sanitárias e ambientais do setor. Mas os produtores preveem prejuízos de US$ 2 bilhões neste ano, à medida que o vírus continua a matar milhões de peixes previstos para serem exportados para os EUA e outros países.
Autoridades do governo e do setor dizem que já tomaram medidas importantes para melhorar os métodos de criação dos salmões. Mas, segundo críticos, a persistência dos problemas revela que nem o setor produtivo nem o governo entenderam ainda a urgência de mudanças de longo alcance, necessárias para proteger os consumidores, o meio ambiente e o próprio setor, um dos mais importantes do país.
De acordo com documentos de instâncias reguladoras, em meio à crise do vírus, o Chile continua a criar salmões para exportação, recorrendo a medicamentos e substâncias químicas não aprovadas nos EUA e na Europa. Embora a agência de medicamentos e drogas dos EUA diga que o Chile fez avanços, vai continuar a submeter a escrutínio especial os salmões importados do país.
Autoridades governamentais chilenas e representantes do setor de criação de salmões dizem que os problemas fazem parte natural do crescimento de uma indústria que, em menos de duas décadas, tornou-se a segunda maior exportadora mundial de salmão e a maior fornecedora do produto aos Estados Unidos.
Eles observam que o vírus que está afetando os peixes, a anemia infecciosa dos salmões (ISA, na sigla em inglês), não é prejudicial aos humanos. Mas, depois de o "New York Times" ter publicado reportagem sobre os peixes chilenos moribundos, no ano passado, alguns compradores restringiram suas importações do país.
Os problemas levaram o governo chileno a intensificar seus controles. No ano passado, o serviço nacional de pesca do Chile triplicou as inspeções dos peixes criados, disse o diretor da agência, Felix Inostrosa.
As medidas que estão sendo estudadas pelo Congresso chileno, com a expectativa de serem aprovadas antes de abril, preveem a redução da densidade dos currais de salmões, onde a superlotação contribui para a difusão do vírus, e a redução do uso de antibióticos.
As autoridades também preveem autorizar a criação dos peixes em "bairros", nos quais as empresas terão de incluir períodos de descanso entre ciclos de produção, dando tempo ao ambiente marinho de se recuperar, disse Rodrigo Infante, gerente geral da associação comercial SalmonChile.
"Não basta a indústria se policiar voluntariamente", disse Andrea Kavanagh, gerente da Campanha de Reforma da Aquacultura de Salmões do Grupo Ambiental Pew, em Washington. "O governo passou tempo demais cedendo à conveniência da indústria, "permitindo o uso de substâncias químicas que sabidamente prejudicam o ambiente, além dos consumidores", disse ela.
Em novembro de 2008, o governo anunciou que vai disponibilizar US$ 120 milhões em empréstimos avalizados para ajudar os produtores a adequar-se rapidamente aos novos regulamentos. Mas, segundo César Barros, presidente da SalmonChile, a previsão ainda é que a produção de salmão tenha queda de 30% este ano.


Colaborou Pascale Bonnefoy em Santiago, Chile


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