São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

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Ciência & Tecnologia

Braço artificial aprende a escutar o cérebro


Portadores de próteses só precisam pensar, e o equipamento reage

Por PAM BELLUCK

Amanda Kitts perdeu o braço esquerdo em um acidente de carro três anos atrás, mas hoje ela joga futebol com seu filho de 12 anos e troca fraldas e abraça as crianças em sua creche em Knoxville, Tennessee (EUA).
Kitts, 40, faz tudo isso com um novo tipo de braço artificial, que se movimenta com muito mais facilidade que outros equipamentos, e que ela pode controlar usando apenas seus pensamentos. "Sou capaz de mexer a mão, o pulso e o cotovelo ao mesmo tempo", ela diz. "Basta pensar que os músculos se movem."
Essa agilidade é consequência de um novo procedimento, que permite que as pessoas movimentem braços protéticos de maneira mais automática que nunca, simplesmente usando nervos reconectados e seus cérebros.
A técnica, chamada reinervação dirigida de músculos, envolve pegar os nervos que restam depois que o braço é amputado e conectá-los a outro músculo do corpo, muitas vezes no peito. Eletrodos são colocados sobre os músculos do peito, atuando como antenas. Quando a pessoa quer mover o braço, o cérebro envia sinais que primeiro contraem os músculos do peito, que mandam um sinal elétrico para o braço protético, instruindo-o a se mexer. O processo exige apenas o esforço consciente necessário para uma pessoa que tem um braço natural.
Pesquisadores relataram, em 10 de fevereiro, na edição online do "Journal of the American Medical Association", que haviam levado a técnica mais adiante, possibilitando realizar dez movimentos de mão, pulso e cotovelo, um grande avanço em relação ao repertório protético típico, de dobrar o cotovelo, girar o pulso e abrir e fechar a mão.
"Isso tem um impacto enorme nesse campo", disse Stuart Harshbarger, engenheiro biomédico da Universidade Johns Hopkins em Maryland e gerente de um estudo de próteses financiado pelos militares, que inclui pesquisas sobre essa técnica. "Já está sendo usado por clínicos e cirurgiões de todo os EUA. A capacidade de controlar um membro protético bastante robusto surpreendeu a todos."
Uma pessoa com um braço protético muitas vezes pode fazer só alguns movimentos e lentamente, o que a faz usar o braço em poucas atividades. Existe um motor diferente para cada movimento, disse Gerald Loeb, professor de engenharia biomédica da Universidade do Sul da Califórnia, "e esse motor tem de ser controlado explicitamente", em geral pela pessoa que contrai conscientemente os músculos das costas ou os bíceps.
Antes que Kitts se submetesse ao procedimento de reinervação, em outubro de 2007, por exemplo, ela precisava mover os músculos das costas de certa maneira para fazer seu pulso girar e flexionar seus tríceps e bíceps para movimentar o cotovelo para cima e para baixo. "Dava muito trabalho. Para mim era inútil", ela disse.
O método de reinervação faz parte de uma recente explosão de novas ideias e técnicas exploradas enquanto os cientistas tentam ajudar as pessoas a compensar a perda ou a paralisia de membros. O impulso é alimentado pelo crescente número de amputações causadas por diabetes e ferimentos militares e pelos avanços tecnológicos.
As iniciativas em curso incluem projetos de pele e braço mais flexíveis e sensíveis e equipamentos sem fio implantados em braços protéticos, que permitem movimentos mais naturais.
A reinervação é feita com cirurgia e equipamentos existentes, mas tem limitações que até seu criador reconhece, como: não é aplicável a todos os pacientes, é cara e leva meses para que os nervos reconectados cresçam e se tornem eficazes.
Ainda assim, especialistas dizem que é o sistema mais avançado até agora e permite que o sistema nervoso controle diretamente o movimento do braço artificial. Desde que foi lançado, em 2001, por Todd Kuiken, fisioterapeuta e engenheiro do Instituto de Reabilitação de Chicago, o procedimento só foi realizado em cerca de 30 pessoas em EUA, Canadá e Europa, incluindo oito soldados feridos em guerras.
Daniel Acosta, 25, veterano da Força Aérea americana ferido por uma mina terrestre no Iraque em 2005, passou pelo procedimento no ano passado e disse que seu braço esquerdo protético hoje se move "muito mais depressa" e com mais naturalidade. "A diferença é que eu não penso nisso", disse Acosta. "Simplesmente o movimento."


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