São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 2011

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Caminhar sobre brasas cria vínculos cordiais

Por PAM BELLUCK
Desde que há lembrança, os moradores do vilarejo espanhol de San Pedro Manrique sempre andaram sobre o fogo.
Eles fazem isso todo 23 de junho, à meia-noite, quando celebram o solstício de verão cruzando um tapete de 7 metros com brasas de carvalho que passaram horas sendo aquecidas até ficarem vermelhas. O evento está cheio de simbolismo: procissões com imagens religiosas, clarins e três virgens (ou, hoje em dia, três solteiras).
Mais recentemente, lá estava também uma equipe científica pesquisando as bases biológicas de rituais comunitários.
"Existe a ideia de que os rituais reforçam a coesão do grupo, mas o que cria esse grupo?", perguntou Ivana Konvalinka, doutoranda em bioengenharia na Universidade de Aarhus, na Dinamarca, uma das líderes da equipe de antropólogos, psicólogos e especialistas em religião. "Percebemos que havia algum tipo de medição do sistema nervoso autônomo que poderia captar os efeitos emocionais do ritual."
Os resultados foram surpreendentes. A frequência cardíaca de parentes e amigos das pessoas que andavam sobre brasas seguia um padrão praticamente idêntico ao dos próprios caminhantes, disparando e caindo quase em sincronia antes, durante e depois da cerimônia de meia hora. Já a frequência cardíaca dos espectadores visitantes não acompanhava esse padrão.
Especialistas não envolvidos no estudo se disseram intrigados com os resultados. Eles se somam a pesquisas segundo as quais a frequência cardíaca de torcedores esportivos sobe quando seus times pontuam, e em estudos demonstrando que pessoas se movendo em cadeiras de balanço ou tamborilando com os dedos acabam sincronizando seus movimentos.
"É um estudo, mas é um grande estudo", disse Michael Richardson, professor-assistente de psicologia na Universidade de Cincinnati. "Ele mostra que estar conectado a alguém não é só algo mental." Richard Sosis, professor de antropologia da Universidade de Connecticut, disse que o estudo foi "muito interessante", contradizendo "a premissa de que os rituais produzem coesão e solidariedade somente se houver movimentos compartilhados, vocalizações compartilhadas ou ritmos compartilhados" em atividades como cantar, dançar ou marchar em grupo.
No caso da caminhada sobre brasas, os espectadores só assistiam, sem partilhar uma atividade ou um ritmo com os caminhantes.
David Willey, um físico da Universidade de Pittsburgh, costuma andar sobre brasas e chegou à conclusão de que não se queima porque elas não transmitem calor suficiente no seu breve contato com os pés. A sincronização cardíaca faz sentido, afirmou ele, pois, nas suas próprias festas com brasas, "há bastante sentimento de grupo".

ON-LINE: CHÃO ESCALDANTE
Veja vídeo de espanhóis andando sobre brasas: nytimes.com/video
Digite "firewalkers in Spain"




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