São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 2011

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Dormir com seu animal de estimação é perigoso

Quem dorme com seu bicho diz que se sente muito bem

Por BOB MORRIS
Todas as noites, há um ano, Kathy Ruttenberg vem dormindo com Trixie, uma porca vietnamita de pequeno porte -pesa sete quilos apenas.
"Ela é ótima para se aconchegar, desde que você não se mexa", disse Ruttenberg, artista plástica de 53 anos que vive nos arredores de Woodstock, comunidade rural a 170 quilômetros ao norte de Nova York. "Mas, se você se agita na cama, ela se irrita, e os cascos dela são extremamente afiados."
Os números variam, mas, segundo um estudo publicado recentemente pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), entre 14% e 62% dos 165 milhões de cães e gatos domésticos dos EUA dormem na cama com seus donos.
As razões disso são fartamente documentadas. Para começar, tocar outro ser, quer seja humano ou não, eleva os níveis de oxitocina no corpo, gerando sentimentos de contentamento. E, é claro, há o conforto gerado pela presença na cama de um animal que ama você de modo incondicional.
"Os animais são descomplicados e nos mantêm no tempo presente", disse Mark Doty, autor de um livro de memórias intitulado "Minha Vida, Meus Cães", que relata a morte de um namorado. "Quando Wally mal conseguia mais se mover, eu o via levantando a mão para acariciar Beau, nosso jovem cão de caça, que estava deitado ao seu lado."
Não chega a surpreender que donos de bichos de estimação, como Doty, não pareçam preocupar-se com o estudo divulgado recentemente pelo CDC, no qual dois médicos da Califórnia avisam que deixar que animais de estimação dividam a cama com seus donos pode ser perigoso e pode propagar zoonoses.
De acordo com Bruno B. Chomel, professor da Universidade da Califórnia em Davis, e Ben Sun, do Departamento de Saúde Pública da Califórnia, os riscos são raros, mas reais. Eles citam casos de transmissão de peste bubônica por pulgas de gatos. A febre causada por arranhões de gatos é um perigo, afirmam, assim como o são formas diversas de meningite, pneumonia Pasturella e outras infecções.
Mas expulsar seus bichos de estimação de suas camas dificilmente será uma opção cogitada por muitas pessoas. Para começar, é difícil treinar animais para que mudem seus hábitos, depois de terem criado uma rotina. Erica Lehrer e Richard Goldman, de Houston, descobriram isso quando tentaram impedir seus três gatos de ocupar o quarto deles, depois de terem instalado um tapete preto caro.
"Eles promoveram um protesto: choraram a noite inteira e bateram na porta com as patas", contou Lehrer, que é escritora e tem 52 anos.
Pelo menos seus gatos são animais que costumam viver dentro de casa, o que significa que há menos risco de Lehrer e Goldman terem camundongos e outros bichos depositados sobre a cama. Agora, quantos aos cachorros: será que as substâncias sobre as quais caminham e que eles levam para a cama podem representar um risco à saúde?
"Eu diria: 'Passe um pano neles e ficará tudo bem'", disse Lucy O'Byrne, do Hospital Veterinário West Village em Manhattan.
Chomel não discorda. Ele avisou que o risco é muito maior quando se trata de beijos e lambidas de animais de estimação. Se você tiver uma lesão na pele ou se seu sistema imunológico estiver comprometido, evite lambidas. O mesmo conselho vale para os bebês. Já houve casos de animais, quando lamberam cortes e feridas causados por cirurgias, transmitirem cepas resistentes de infecções por estafilococos e outras doenças. Portanto, depois de uma cirurgia, não é recomendado receber os animais em sua cama.
Por outro lado, o que Patricia Garcia-Gomez teria feito sem um cão em sua cama, depois de passar por uma cirurgia de grande porte? Seis meses depois de se apaixonar por seu namorado, mas não pela cadela "Rhodesian ridgeback" dele, Sylvie (que, por sinal, deixou claro que não apreciava a invasão do seu espaço, urinando no apartamento dele enquanto olhava fixamente nos olhos de Garcia-Gomez), ela estava se recuperando quando a cadela enorme a surpreendeu ao subir na cama ao lado dela. Foi um grande conforto.
"Ela vem dividindo a cama conosco desde então", disse Garcia-Gomez. Mesmo que as lambidas encerrem riscos, é possível que os benefícios pesem mais que os riscos, em vista das evidências de que animais de estimação podem aumentar a longevidade e fortalecer o sistema imunológico de seus donos.
Cesar Millan, o intransigente treinador de cães conhecido por sua série de TV "The Dog Whisperer", concorda que dividir a cama com um cachorro não é problema. Mas acha que o cachorro deve ser convidado todas as noites para que fique claro quem é o líder verdadeiro do bando. "E você deve escolher a parte da cama na qual o cachorro vai dormir", ele escreve em seu livro "Cesar's Way". "Bons sonhos!"


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