São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 2011

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Tração animal volta a ser utilizada no campo

Por TESS TAYLOR
SHEFFIELD, Massachusetts - Num domingo de sol pouco antes do equinócio da primavera, enquanto muitos fazendeiros estavam lubrificando seus tratores e os enchendo de combustível, Rich Ciotola começou a preparar um pasto usando uma ferramenta tão antiga que parece quase revolucionária: uma junta de bois.
Na entrada do pasto da fazenda "Moon in the Pond", onde trabalha, Ciotola laçou seus dois bois da raça suíça marrom, Lucas e Larson. Ele os levou até uma canga de dez quilos, feita de madeira de bordo, que comprara de segunda mão de outro fazendeiro que usa juntas de bois, posicionou a canga sobre os pescoços dos animais e os levou ao outro lado da cerca para que pudessem começar a puxar toras caídas no chão.
Ciotola tem 32 anos e faz parte de um contingente de pequenos produtores agrícolas que estão se voltando -ou melhor, retornando- ao trabalho de animais para ajudá-los nas fazendas. Enquanto os preços do diesel sobem, alguns fazendeiros enxergam uma lógica renovada no uso de animais para puxar cargas. Os defensores da prática argumentam que alojar, além de alimentar animais, pode custar menos que fazer o mesmo com um trator. Sem falar que os animais se alimentam de um recurso renovável: capim.
"Os bois não precisam de peças novas. Eles não consomem combustíveis fósseis", disse Ciotola. Outra coisa é que os animais exercem menos impacto sobre a terra do que as máquinas. "Um trator teria deixado sulcos de 30 cm de profundidade nesta estrada", observou o fazendeiro.
David Fisher, cujo programa de Agricultura de Base Comunitária Raízes Naturais, em Conway, no Massachusetts, vende hortigranjeiros cultivados exclusivamente com a ajuda de cavalos- contou que vem recebendo número recorde de inscrições de interessados no programa de aprendizado.
Drew Conroy, professor de ciência animal na Universidade de New Hampshire em Durham, é conhecido nos círculos dos adeptos do uso da tração animal como o "guru dos bois". Ele observa que o uso de cavalos e até mesmo mulas também vem crescendo.
"Bois custam pouco e são fáceis de treinar, mas são essencialmente bovinos -ou seja, inteligentes, mas lentos", disse ele.
Um boi pode trabalhar por dez a 14 anos. Como a indústria leiteira depende de as vacas emprenharem para que possam produzir leite, milhões de boizinhos nascem todos os anos. Uma dupla de bezerros custa a partir de US$ 150 e pode chegar a valer US$ 1.500. Algumas fazendas leiteiras chegam a doar seus novilhos.
Cavalos são mais velozes, mais temperamentais, mais difíceis de treinar, custam mais caro, e sua manutenção é mais cara. Conroy observa que as mulas se adaptam melhor ao clima do sul dos EUA. "Com o tempo muito quente, um boi é capaz de empacar", disse.
Os bois ou cavalos aeram o solo com seus cascos à medida que avançam, preservando as férteis camadas microbianas do solo. Os animais ainda deixam fertilizante gratuito em seu rastro.
Mesmo seus defensores mais ferrenhos reconhecem que é provável que os animais de tiro não passem de elementos de importância menor. Sua relação custo-benefício só é positiva em fazendas pequenas. Eles só apresentam bom desempenho quando são usados diariamente.
Para Ciotola, o aspecto mais difícil de trabalhar com seus bois é encontrar o tempo necessário para treiná-los. "As melhores juntas precisam ser utilizadas todos os dias. Isso é difícil para mim, pois tenho outros trabalhos para fazer no inverno", ele explicou.
Depois da primeira saída ao trabalho da estação, Lucas e Larson ficaram parados, calmos, no meio do pasto, movendo os olhos e as caudas, enquanto Ciotola os escovava. Larson se afastou para devorar um pouco de feno.
"Mesmo quando é cansativo trabalhar com eles, é melhor do que passar um dia no trator", disse o fazendeiro.


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