São Paulo, segunda-feira, 23 de novembro de 2009

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SAÚDE & BOA FORMA

China obtém vitória contra gripe suína


Quarentenas rigorosas podem ter poupado vidas


Por EDWARD WONG
CHANGGANG, China - Meses atrás, poucos agricultores na aldeia de Changgang, no sul da China, haviam se preocupado ante a epidemia que começara a se espalhar rapidamente pelos Estados Unidos, até que as autoridades isolassem seus cem moradores por cerca de uma semana. É que um visitante da Califórnia havia apresentado sintomas da gripe suína, ou H1N1, ao chegar a Changgang para um funeral.
Quarentenas e detenções médicas estão entre as medidas agressivas que as autoridades chinesas têm adotado para desacelerar a transmissão do H1N1, que se espalhou rapidamente pelo mundo depois dos primeiros diagnósticos na América do Norte, em abril.
Apesar dos protestos mundiais, a China isolava todos os passageiros de aviões nos quais uma só pessoa apresentasse sintomas de gripe. Autoridades locais suspendiam aulas ao mais leve sinal da doença e mandavam professores e alunos ficarem em casa. A China esteve praticamente sozinha na adoção de medidas tão duras, mantidas durante a maior parte do verão do Hemisfério Norte.
Agora, autoridades sanitárias locais e estrangeiras dizem que parte dessas medidas polêmicas -mais facilmente adotadas por um Estado autoritário- pode ter ajudado a desacelerar a difusão da doença no país mais populoso do mundo. A China não teve de lidar com uma enormidade de casos e se tornou, no começo de setembro, o primeiro país a administrar vacinas contra a gripe suína.
As autoridades estrangeiras também dizem que a China apresentou uma excepcional abertura no compartilhamento de informações sobre o H1N1 com seus cidadãos e outros governos, ao contrário da abordagem sigilosa quando da quase pandemia da Sars (síndrome respiratória aguda grave, na sigla em inglês), alguns anos atrás.
Isso não significa que a China tenha sido poupada. Em 10 de novembro, o Ministério da Saúde notificou um aumento "explosivo" do H1N1 por causa da aproximação do inverno, elevando o total de casos a mais de 59 mil. Pelo menos 30 pessoas já morreram.
É difícil apontar dados exatos sobre o vírus; há muito mais casos suspeitos do que confirmados, e os países costumam usar métodos diferentes para identificá-los. Ainda assim, os indicadores na China são muito mais positivos do que os da Índia. A exemplo da China, a Índia tem mais de 1 bilhão de habitantes, muitos deles em condições rurais e pobres, e foi exposta ao vírus depois de este ter sido identificado no Ocidente. O ministério indiano da Saúde já notificou 505 mortes.
Os EUA, onde o vírus se espalhava antes de ser identificado, já notificaram mais de 2 milhões de casos e cerca de 4.000 mortes, de um total de 300 milhões de habitantes.
"Acho que houve uma variedade de medidas adotadas por diferentes países, e é difícil dizer o que funcionou melhor e o que não funcionou, mas as da China funcionaram muito bem", disse Michael O'Leary, diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Pequim.
Até agosto, 56 milhões de pessoas haviam sido examinadas com sintomas de gripe nas fronteiras da China, disse Feng Zijian, do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, que afirmou não saber quantos viajantes haviam sido postos em quarentena. A Embaixada dos EUA em Pequim disse que 2.046 cidadãos norte-americanos haviam estado em quarentena até o final de outubro, sendo 215 com exames positivos para o H1N1.
"Se essas medidas rígidas não tivessem sido tomadas, e se tivesse ocorrido um surto repentino da doença, teria havido um enorme pânico entre a população chinesa", disse Feng. "Apesar das muitas críticas vindas do exterior, as pessoas deveriam entender as considerações da China."
Mas Feng e O'Leary também dizem que os custos sociais e financeiros das rígidas medidas chinesas terão de ser levados em conta. E não está claro até que ponto essas ações bastaram para retardar a difusão do H1N1 -as férias e o calor durante o verão chinês foram essenciais para reduzir o ritmo do vírus. Quarentenas de grupos escolares inteiros vindos do exterior provocaram indignação e fizeram algumas autoridades dos Estados Unidos se queixarem junto a Pequim.
Em julho, 65 estudantes e sete acompanhantes da Escola Saint Mary, do Oregon (EUA), foram submetidos à quarentena duas vezes. "Na época, parecia extremo e restritivo, porque eu nunca havia experimentado um surto de doença infecciosa", disse Scott Dewing, diretor de tecnologia da escola e um dos participantes da viagem. "Agora, olhando para trás e vendo algumas medidas que estão sendo adotadas nos EUA, as medidas chinesas não parecem tão extremas."


Colaboraram Li Bibo, com pesquisa em Pequim,. e Keith Bradsher, em Hong Kong



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