São Paulo, segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

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Cidade no México não tem mais polícia

Por RANDAL C. ARCHIBOLD
GUADALUPE DISTRITO BRAVOS, México - Seu tio, o prefeito que lhe deu o emprego que ninguém mais queria, a avisou para manter um perfil discreto, não se gabar de ser a última policial em uma cidade onde o restante da força havia se demitido ou sido morta.
Mas em fotos para jornais locais, Érika Gándara, 28, parecia gostar muito desse papel, empunhando um rifle semiautomático e usando um abrigo com capuz vermelho em vez de uniforme. Um curativo lhe cobria um olho inchado por uma picada de abelha. "Sou a única policial desta cidade, a autoridade", disse. Então, dois dias antes do Natal, um grupo de homens armados a tirou de casa, segundo vizinhos, e ela não foi mais vista.
Foi um momento quase predestinado na onda de terror que transformou esta cidade agrícola produtora de algodão, próxima do Texas, em um posto-avançado na guerra das drogas. Quase a metade de seus 9 mil moradores fugiram, segundo autoridades locais, deixando quarteirões de casas e lojas arrasadas e, hoje, nenhum policial regular.
Longe das grandes cidades infames como Ciudad Juárez, um dos lugares mais violentos das Américas, a guerra com o crime organizado pode atingir pequenas cidades com a mesma força, embora com menos divulgação.
Algumas se consideram tão vulneráveis que fazem o impossível para não irritar os criminosos. Acreditando que os envolvidos no crime organizado seriam menos inclinados a agredir mulheres -e como há menos homens dispostos a assumir o cargo-, as autoridades locais indicaram um punhado de mulheres no ano passado para altos cargos policiais em pequenas cidades e aldeias aqui no Estado de Chihuahua, o mais violento do México.
Depois de um surto de violência na cidade vizinha de Praxédis Guerrero, as autoridades locais escolheram em novembro uma estudante colegial de 20 anos como chefe de polícia, para dirigir uma força de nove mulheres e dois homens, esperando que as redes criminosas a considerassem menos ameaçadora.
Marisol Valles, a jovem delegada, esclareceu que deixa os crimes maiores para as autoridades estaduais e federais investigarem. Realmente, disse, apenas revê infrações civis emitidas por outros oficiais e raramente deixa seu escritório.
Mas os criminosos não discriminaram. Hermila García, a mulher indicada chefe de polícia de Meoqui, em Chihuahua, foi morta em 30 de novembro depois de apenas um mês no cargo.
Guadalupe tentou colocar um rosto inofensivo na repressão indicando Gándara delegada em outubro. Mas parece que ela tentou levar o cargo mais a sério -ou pelo menos falou sobre isso-, para tristeza de seu tio, o prefeito Tomás Archuleta. Ele tinha motivos para lhe aconselhar discrição: assumiu o cargo após a morte de seu antecessor.
"Eu disse a Érika: 'Tome cuidado, não crie confusão'", afirmou Archuleta, frustrado pela imagem dela segurando o rifle. Como Valles, seu papel é principalmente emitir citações, deixando os crimes graves para autoridades estaduais e federais.
Guadalupe tem muitos deles para investigar. Há tantas casas e empresas abandonadas -várias delas saqueadas- quanto ocupadas. Em uma manhã recente, quatro casas queimaram depois de um ataque e duas pessoas foram mortas; as balas deixaram vários buracos nas paredes de blocos de concreto.
Poucas pessoas saem de casa depois das 17h, e soldados e a polícia só são vistos rapidamente, depois de um grande crime ou quando estão protegendo a entrega mensal dos pagamentos do governo.
Archuleta não quis dizer muito mais sobre Gándara, citando uma investigação da Promotoria do Estado que não quis comentar sobre o motivo. Mas ele notou que havia recorrido a ela porque ninguém mais quis assumir o cargo. A jovem tinha experiência como segurança e parecia não estar envolvida em atividades criminosas.
"Quem sabe o que as pessoas fazem em suas vidas particulares?", comentou. "Mas não penso que ela estivesse envolvida em alguma coisa."


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