São Paulo, segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

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Promovendo as traduções

Como convencer americanos a ler literatura traduzida

Por LARRY ROHTER
O sucesso absoluto da trilogia "Millennium", de Stieg Larsson, sugere que, quando o assunto é literatura contemporânea traduzida, os americanos se mostram dispostos, pelo menos, a ler ficção policial escandinava.
Mas, no caso de livros de outras regiões do mundo e outros gêneros, conquistar o interesse dos leitores e das grandes editoras dos EUA é um esforço inglório. Entre as editoras e instituições culturais estrangeiras, a tradicional aversão americana à literatura traduzida é conhecida como "o problema dos 3%".
Mas agora, na esperança de aumentar sua parcela minúscula do mercado americano de livros -cerca de 3%-, governos estrangeiros, especialmente os de países nas margens da Europa, estão começando a tomar medidas próprias.
Cada vez mais, a campanha já não se limita a línguas amplamente faladas, como o francês e alemão.
Institutos e agências culturais de lugares que vão desde a Romênia e Catalunha até a Islândia vêm subsidiando a publicação de livros em inglês e a formação de tradutores, incentivando seus escritores a viajar pelos EUA e submetendo-se às técnicas de marketing americanas.
"Determinamos isso como objetivo estratégico: um compromisso de longo prazo de penetrarmos no mercado americano", contou Corina Suteu, que chefia o ramal em Nova York dos Institutos Nacionais de Cultura da União Europeia e dirige o Instituto Cultural Romeno. "Para as nações da Europa, grandes ou pequenas, a literatura sempre será uma das chaves de sua existência cultural, e reconhecemos que essa é a única maneira pela qual poderemos tornar essa literatura presente nos EUA."
A Dalkey Archive Press, uma editora pequena de Champaign, Illinois, lançou este ano uma série literária que tem o apoio de grupos oficiais da Eslovênia. O primeiro trabalho publicado foi "Necropolis", de Boris Pahor, um livro de memórias de um campo de concentração na Segunda Guerra Mundial, seguido por "You Do Understand", de Andrej Blatnik, uma coletânea de textos curtos e absurdistas sobre a intimidade.
A Dalkey pretende lançar séries semelhantes de literatura hebraica, catalã, suíça e mexicana. Em cada caso, uma agência financiadora no país de origem está subsidiando as publicações.
"Prevejo para breve o dia em que os únicos livros que poderemos publicar serão livros que integram séries", disse o publisher da Dalkey, John O'Brien. "Não estamos fazendo isso simplesmente como editores de livros -estamos fazendo em conjunto com consulados, embaixadas e institutos de livros em outros países. Isso gera um nível de interesse considerável."
Agências culturais de muitos países passaram a enxergar a internet como aliada na promoção de seus produtos, por meio de sites próprios e de sites americanos que fazem a defesa da literatura traduzida.
Um desses sites, o Three Percent, foi fundado pela Open Letter, a editora literária da Universidade de Rochester, em Nova York. O site tornou-se um animado fórum de discussão e resenhas de traduções. Outro site, Words Without Borders, publica obras traduzidas on-line e também funciona como local em que tradutores podem oferecer amostras de seu trabalho a editoras comerciais.
A fundadora do site, Alane Salierno Mason, explicou: "Parte do que fazemos é oferecer aos tradutores mais jovens um espaço para lançar seu trabalho que não seja de tão alta pressão, onde eles possam sentir como é ser tradutor e desenvolver um pouco de confiança, antes de encararem um projeto grande".
A Words Without Borders também encomendou projetos, sendo os mais recentes "Tablet & Pen: Literary Landscapes From the Modern Middle East", uma antologia de contos, ensaios, poemas e memórias traduzidos do árabe, persa, turco e urdu. A W.W. Norton lançou a antologia em novembro, e ela vem tendo recepção excelente.
Até mesmo a gigante on-line Amazon.com lançou-se nesse campo, com um novo selo de obras literárias traduzidas, o AmazonCrossing. O primeiro lançamento foi "The King of Kahel", um romance escrito originalmente em francês por Tierno Monénembo, natural da Guiné. Cinco outros títulos já foram anunciados.
O chefe do selo, Jeff Belle, comentou que a Amazon enxergou "uma oportunidade em um setor do mundo editorial que é subatendido".
"Nós, como empresa global, temos sorte de termos muitas análises à nossa disposição", disse. "Isso tem sido muito útil para confirmar nossa teoria original: de que muitos autores e muitas vozes de qualidade simplesmente não tinham uma oportunidade para alcançar o público americano."
Institutos culturais governamentais, como o Institut Ramon Llull, dedicado à divulgação da língua e cultura da Catalunha, na Espanha, e o Instituto de Literatura Coreana Traduzida, vêm ajudando a subscrever conferências e livros sobre tradução; outros estão patrocinando viagens, levando tradutores americanos a seus países para que os possam conhecer melhor suas culturas e seus povos.
"Para essas pessoas, está claro que haverá muito pouco apoio aqui para esse tipo de trabalho e que esse apoio terá que vir de fora [da indústria de livros]", disse Esther Allen, professora de literatura no Baruch College de Nova York e ex-diretora do Fundo PEN de Tradução. "Ainda existe entre as editoras comerciais principais uma visão muito arraigada de que o consumidor de livros americano não quer ler traduções."


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