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Mais aprendizado, sem faculdade
Nem todo o mundo vai à universidade, e isso pode ser uma decisão inteligente
Aprender no local de trabalho pode trazer vantagens
CHristopher furlong/Getty images
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Um crescente número de educadores e economistas defende que haja alternativas profissionais para alunos que dificilmente terão sucesso na obtenção de um diploma de nível superior
Por JACQUES STEINBERG
Qual é a chave do sucesso?
Se não for virar astro de reality show, a resposta é rotineira e, dizem alguns,
bastante inconsciente: se formar na faculdade.
A ideia de que quatro anos de ensino superior irão se traduzir em emprego
melhor, salário mais alto e uma vida mais feliz tem sido martelada na cabeça de
alunos, pais e educadores no mundo todo. Mas há outro lado nessa sabedoria
convencional. Dos alunos que entraram na graduação de quatro anos nos EUA no
segundo semestre de 2006, talvez menos da metade se forme no prazo de seis anos,
segundo as últimas projeções do Departamento de Educação do país.
Para os alunos de ensino superior que estiveram na pior quarta parte das suas
classes no ensino médio, os números são ainda mais duros: 80% provavelmente
jamais vão conseguir o diploma de bacharel, e nem mesmo a graduação básica de
dois anos.
Ou seja: muita mensalidade, sem um diploma para mostrar ao final.
Um pequeno e influente grupo de economistas e educadores está propondo outro
caminho: para alguns alunos, nada de faculdade. É hora, dizem eles, de
desenvolver alternativas críveis para alunos que dificilmente terão sucesso na
obtenção de uma graduação, ou que podem não estar preparados para isso.
Entre os que defendem tal alternativa estão os economistas Richard Vedder, da
Universidade de Ohio, Robert Lerman, da Universidade Americana, e James
Rosenbaum, professor de educação da Universidade Northwestern, de Illinois. Eles
gostariam de direcionar alguns alunos para um ensino técnico profissionalizante
intensivo, curto, por meio de programas ampliados no ensino médio e de vagas
para aprendizes em empresas.
Embora nenhum país tenha um modelo perfeito para esses programas, Lerman citou
um estudo sobre a Alemanha, feito no ano passado por uma estagiária daquele
país. Ela concluiu que 40% dos aprovados no Abitur, vestibular que permite a alguns alemães
frequentar a faculdade quase sem custos, preferiam virar aprendizes nas áreas de
comércio, contabilidade, gestão de vendas e informática.
"Algumas pessoas que saem dessas aprendizagens têm mais oferta [de emprego] do
que os graduados em faculdades", disse ele, "porque elas realmente já cuidaram
das coisas no local de trabalho".
Grande parte do treinamento para certos empregos, como o de auxiliar de
enfermagem, é viável fora do ambiente universitário, disse Vedder. "É verdade
que precisamos de mais nanocirurgiões do que 15 anos atrás. Mas os números ainda
são relativamente pequenos em comparação ao número de auxiliares de enfermagem
que iremos precisar. Precisaremos de centenas de milhares deles na próxima
década."
Das 30 profissões que mais devem crescer ao longo da próxima década nos Estados
Unidos, apenas 7 costumam exigir bacharelado, de acordo com o Departamento de
Estatísticas do Trabalho.
Entre as 10 categorias que mais crescem, 2 exigem diploma de graduação:
contabilidade (um bacharelado) e magistério superior (um doutorado). Mas esse
crescimento deve ser ofuscado pela necessidade de assistentes domésticos de
saúde, representantes de serviços para o cliente e balconistas de loja. Nenhum
desses empregos exige diploma de graduação.
Vedder gosta de perguntar por que 15% dos carteiros têm bacharelado. "Alguns
poderiam ter comprado uma casa com o que gastaram na sua educação", afirmou.
Lerman, o economista da Universidade Americana, em Washington, disse que alguns
recém-formados do ensino médio estariam mais bem servidos se aprendessem como se
comportar e se comunicar no local de trabalho.
Tais habilidades estão entre as mais desejadas -antes mesmo da escolaridade- em
muitas pesquisas com empregadores.
Em uma delas, em 2008, com mais de 2.000 empresas no Estado de Washington, as
principais deficiências apontadas nos recém-contratados eram em "resolver
problemas e tomar decisões", "resolver conflitos e negociar", "cooperar" e
"ouvir ativamente".
Apesar dessa necessidade, os cursos técnicos têm sido uma vítima na busca por
padrões nacionais de educação nos EUA, que focam a preparação dos alunos para a
faculdade.
Enquanto alguns educadores propõem uma renovação radical no sistema de
faculdades comunitárias, para que elas ensinem a preparação para o trabalho,
Lerman defende um significativo investimento por parte de governo e empregadores
para o treinamento de aprendizes no local de trabalho.
Ele falou com admiração, por exemplo, de um programa da rede de drogarias CVS,
em que aspirantes a assistentes de farmácia trabalham como aprendizes em
centenas de lojas. De lá muitos vão à faculdade e se tornam farmacêuticos
propriamente ditos.
"O campo da saúde é obviamente um caso em que a situação da mão de obra é aquém
da ideal", disse ele. "Eu tentaria trabalhar com alguns grandes empregadores
para desenvolver esse tipo de programa, para oferecer um domínio sobre empregos
que de fato exigem alto conhecimento."
Mas, ao aconselhar alguns estudantes a serem direcionados para fora das
faculdades de quatro anos, acadêmicos como Lerman podem ser acusados de rebaixar
as expectativas desses alunos.
Alguns críticos vão além, sugerindo que a abordagem equivale a uma discriminação
educacional, já que muitos dos alunos que abandonam a faculdade são negros ou
hispânicos não brancos.
Peggy Williams, orientadora numa escola de um subúrbio de Nova York cujos alunos
são majoritariamente negros e hispânicos, entende o argumento em prol de
estimular a ida à faculdade.
"Se estamos dizendo à garotada: 'Vocês nunca vão chegar lá, vocês nem deveriam
ir para a faculdade ou a universidade', então nós estamos privando-os de
experimentar um ambiente em que poderiam crescer."
O economista Morton Schapiro, reitor da Universidade Northwestern, chamou a
atenção para os benefícios intangíveis da experiência da faculdade mesmo para
aqueles que não venham a aplicar o que aprenderam diretamente no trabalho que
escolherem.
"Não se trata só de retorno econômico", disse. "Ir à faculdade, concluindo ou
não, contribui com a apreciação estética, a melhor saúde e o melhor
comportamento eleitoral."
Mesmo quem passa poucos anos na faculdade ganha mais, em média, e tem menos
risco de desemprego do que aqueles que apenas concluíram o ensino médio, disse
Schapiro. "Você tem algum retorno mesmo se não apanhar o canudo."
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