São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2010

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Laser ajuda a mapear civilização maia

Por JOHN NOBLE WILFORD

Dois arqueólogos e sua equipe passaram 25 anos abrindo caminho por vegetação tropical selvagem para pesquisar e mapear os resquícios de uma das maiores cidades maias, na América Central. Avançar lentamente, abrindo caminho com facões, parecia ser a única maneira de trazer à tona o lugar ocupado por uma paisagem urbana da Antiguidade, hoje oculta sob uma densa floresta.
Mesmo as novas tecnologias de sensoriamento remoto, tão eficazes nas últimas décadas no levantamento topográfico de outros sítios arqueológicos, não ajudavam. Levantamentos feitos desde o ar e o espaço não conseguiam "enxergar" através das árvores.
Então, um ano atrás, a dupla de arqueólogos formada pelo casal Arlen F. Chase e Diane Z. Chase experimentou uma abordagem nova, usando sinais de laser aéreo que penetram a cobertura arborizada da selva e são refletidos do chão abaixo. O resultado foram imagens em 3D do sítio de Caracol, em Belize, uma das grandes cidades de planície da civilização maia.
Em apenas quatro dias, um avião bimotor equipado com uma versão avançada de lidar (exploração e detecção por luz) sobrevoou a selva e coletou dados que superaram os resultados de duas décadas e meia de mapeamento feito no solo, disseram os arqueólogos. Depois de três semanas de processamento em laboratório, as quase dez horas de medições mostraram detalhes topográficos de uma área de 207 km2, incluindo os contornos de obras arquitetônicas grandiosas e montes modestos que foram casas, estradas e terraços agrícolas.
"Ficamos estarrecidos", disse Diane Chase, recordando sua reação ao examinar as imagens. "Acreditamos que o lidar vai ajudar a transformar a arqueologia maia."
Professores de antropologia na Universidade da Flórida Central, os Chase tinham determinado, graças a levantamentos anteriores, que Caracol ocupou uma área extensa em sua época áurea, entre os anos 550 e 900 d.C. Desde um centro cerimonial formado por palácios e praças amplas, ela se estendia para zonas industriais e bairros pobres e, mais longe, subúrbios compostos de casas, mercados, reservatórios e campos dispostos em terraços.
Esse quadro de uma zona urbana extensa levou o casal a estimar que, em seu auge, a cidade teria tido mais de 115 mil habitantes. Mas outros arqueólogos duvidavam que as evidências justificassem interpretações tão expansivas.
"Agora dispomos de uma totalidade de dados e enxergamos a paisagem por inteiro", disse Arlen Chase, falando dos dados obtidos por laser. "Conhecemos o tamanho do sítio, seus limites, e isso confirma nossas estimativas quanto à população.
Vemos todos esses campos agrícolas dispostos em terraços e começamos a entender como as pessoas se alimentavam."
O levantamento de Caracol foi a primeira aplicação da tecnologia de laser avançada em um sítio arqueológico tão grande. Vários artigos publicados em periódicos especializados descrevem o uso do lidar nas proximidades de Stonehenge, Reino Unido, em um forte da Idade da Pedra e em sítios de "plantations" americanas. Em 2009, Sarah Parcak, da Universidade do Alabama em Birmingham, previu: "O imageamento por lidar terá muito a oferecer à arqueologia nas regiões de floresta tropical".
Os Chase disseram que não tinham conhecimento do parecer de Parcak, contido em seu livro "Satellite Remote Sensing for Archaelogy", quando iniciaram o levamento de Caracol. Eles agiram por recomendação de um colega da Universidade da Flórida Central, o biólogo John Weishampel, que vinha usando sensores de laser aéreos havia anos para estudar florestas e outros tipos de vegetação.
Weishampel obteve o financiamento primário do projeto do pouco conhecido programa de arqueologia espacial da Nasa. Outros arqueólogos, que não estavam envolvidos na pesquisa mas tinham conhecimento dos resultados, disseram que a tecnologia deve ser uma dádiva para explorações, especialmente as que são feitas em regiões tropicais com vegetação densa, incluindo sítios pré-colombianos no México e na América Central. Mas eles ressaltaram que esse tipo de levantamento não eliminará a necessidade de um mapeamento tradicional posterior.
Para os Chase, as novas pesquisas demonstram como uma sociedade agrícola grande e sustentável foi capaz de florescer em um ambiente tropical, assim explicando a existência da civilização maia robusta, de 250 a 900 d.C. "Isso vai revolucionar a maneira como fazemos estudos de assentamentos maias", disse Arlen Chase.


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