São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2010

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Estudos veem elo entre anatomia e crime

Por PATRICIA COHEN

Pobreza, cobiça, revolta, inveja, orgulho, vingança. São esses os suspeitos comuns quando se trata de discutir as causas da criminalidade. Nos últimos anos, porém, economistas começaram a pesquisar outra explicação para a atividade criminal: atributos físicos.
Um grupo de economistas tem estudado como altura, peso e beleza afetam a probabilidade de se cometer um crime ou ser condenado por ele. Analisando arquivos dos séculos 19, 20 e 21, eles encontraram evidências de que homens mais baixos têm 20% a 30% mais probabilidades de ir para a prisão do que homens mais altos, e que obesidade e beleza física também estão ligadas à criminalidade.
"A categoria [dos economistas] desenvolveu um grande interesse pela biologia", disse Gregory N. Price, economista do Morehouse College e um dos autores de um artigo sobre altura e criminalidade.
Já há um volume considerável de pesquisas sobre as ligações entre características físicas e o mercado de trabalho. Economistas constataram, por exemplo, que cada polegada (2,54 centímetros) de altura adicional é associada a um aumento de quase 2% nos ganhos; que funcionários qualificados como belos tendem a receber 5% mais por hora que as pessoas de aparência comum, enquanto os funcionários descritos como feios recebem 9% menos, e que a obesidade pode provocar uma queda nos ganhos de mulheres brancas.
Para demonstrar um ponto relativo ao Imposto de Renda, o economista Gregory Mankiw, da Universidade Harvard, propôs em tom de brincadeira que se cobrem mais impostos de pessoas mais altas, já que uma pessoa de 1,83 m de altura pode esperar receber US$ 5.525 mais por ano que alguém que mede 1,65 m -já descontados os fatores de gênero, peso e idade.
Vincular traços físicos à criminalidade pode soar um retrocesso, um retorno ao determinismo biológico defendido por darwinistas sociais do século 19 que acreditavam na existência de uma predisposição genética para fazer o mal. Os defensores das ideias novas fazem questão de distanciar-se dessas ideias passadas.
Price argumenta que a criminalidade pode ser vista, pelo menos em parte, como um "mercado de trabalho alternativo". Se indivíduos dotados de certas características físicas estão em desvantagem no mercado de trabalho, disse ele, podem passar a achar a criminalidade mais atraente.
H. Naci Mocan, economista e autor de um artigo sobre a criminalidade e a beleza, explicou que as teorias sobre a relação entre peso, altura e beleza e o mercado de trabalho emergiram porque "os economistas que analisavam fatores determinantes habituais -como educação, experiência, produtividade, capital humano- constataram que só podiam explicar parte da variação nos salários".
"Tudo isto é novo", disse Mocan, referindo-se às pesquisas sobre criminalidade. "Isso abre nossos horizontes mais um pouco."
No momento, Mankiw é cético quanto a qualquer utilidade das descobertas no mundo real. "Economistas adoram quantificar as coisas", disse, "mas há tantas interpretações possíveis que esses dados não resolvem debates, e sim abrem novas perguntas".
Ele observou, contudo, que seus alunos estão fascinados com as pesquisas que revelam vantagens econômicas quantificáveis da beleza. O benefício desses "fatos esdrúxulos", disse, é que "isso obriga você a pensar sobre o mundo de maneiras que não pensava antes".


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