São Paulo, segunda-feira, 24 de agosto de 2009

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LENTE

A democracia e seus descontentes

Os excluídos, em geral, ocupam as primeiras fileiras nas manifestações de protesto e se sentem desprotegidos quando o governo ignora seus interesses. Mas, quando aqueles que têm mais são os que gritam mais alto, é provável que haja uma mudança no ar.
Vídeos de norte-americanos frustrados, muitos dos quais brancos e razoavelmente prósperos, gritando com os seus representantes eleitos quanto à proposta de instituir alguma forma de sistema nacional de saúde, vêm ocupando a programação das redes de notícias a cabo dos EUA nas últimas semanas.
Os hondurenhos responsáveis pelo golpe contra o presidente Manuel Zelaya no mês passado conspiraram para derrubá-lo nos salões das mais confortáveis residências do país. Estavam preocupados com o rumo populista das políticas de Zelaya, reportou Ginger Thompson no “New York Times”.
Armida Villella de López Contreras, advogada e antiga vice-presidente de Honduras, ajudou a organizar os protestos que levaram dezenas de milhares de pessoas em marchas ao Congresso.
“Os pobres sempre protestaram, e os riscos sempre disseram tudo o que queriam, mas a classe média nunca havia protestado até agora”, disse López Contreras. “Foi como se Honduras despertasse.”
Os eleitores rurais do Japão, normalmente dóceis, estão perdendo a fé, cansados da corrupção no governo e da economia estagnada. Ainda que a população tenha apoiado o Partido Liberal Democrata (PLD) em todos os pleitos dos últimos 55 anos, exceto um, Martin Fackler reportou no “New York Times” que as pesquisas de opinião pública apontam para uma humilhante derrota do partido na eleição nacional do próximo domingo.
“O Japão rural está zangado”, disse o aposentado Takayuki Myauchi, 67.
A proposta de reformar o sistema de saúde norte-americano parece ter despertado ira profunda entre os republicanos, que agora se sentem excluídos de um governo controlado por seu partido durante muitos anos. Houve manifestações ruidosas que resultaram em trocas de socos, detenções e hospitalizações.
“Vocês querem desmantelar o país”, gritou Katy Abram, 35, ao senador Arlen Specter, da Pensilvânia. “Não queremos ver este país transformado na Rússia.”
Esse método de “debate” pode ser visto como um caminho para a retomada do poder. “O que está em jogo não é só a saúde”, disse Carolyn Doric, de Harrisburg, Pensilvânia. “É o poder, e uma maneira de recuperar o poder político.”
Para a democracia, a apatia talvez seja mais perigosa do que a raiva, como escreveu Hassana Sherjan em ensaio ao “New York Times”, descrevendo o sentimento de muitos dos afegãos com melhor nível educacional, no contexto do pleito presidencial da última quinta-feira.
Sherjan, diretora da Aid Afghanistan for Education, disse que um de seus colegas conversou sobre a eleição com dez amigos, e todo o grupo decidiu que não votaria. As queixas deles incluem insatisfação com os candidatos, falta de segurança e o papel das organizações assistenciais estrangeiras. “A eleição é uma simples formalidade”, disse a amiga de Sherjan.
Mas, quando se trata de democracia, gritar com os legisladores é melhor do que desistir deles.


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