São Paulo, segunda-feira, 24 de agosto de 2009

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Meca do consumo on-line surge na China

Por DAVID BARBOZA

YIWU, China — Nos meses anteriores à sua formatura no colégio, em junho, Yang Fugang passou a maior parte dos dias longe do campus, gerenciando uma loja on-line que vende cosméticos, xampus e outros produtos que ele costuma comprar de fábricas locais.
Hoje, sua loja no Taobao.com —bazar on-line de maior crescimento na China— tem 14 funcionários, dois armazéns e muito dinheiro. “Nunca pensei que pudesse me sair tão bem”, disse Yang, 23, que ganhou US$ 75 mil no ano passado. “Comecei vendendo tapetes e hoje vendo montes de cosméticos e maquiagem. As margens de lucro são maiores.”
A febre do Taobao varreu a escola de Yang, o Colégio Industrial e Comercial de Yiwu, onde, segundo a direção, 25% dos 8.000 estudantes hoje operam uma loja no Taobao, muitas vezes do próprio dormitório.
Em toda a China, milhões de pessoas —recém-formados, lojistas e aposentados— também usam o Taobao para vender roupas, celulares, brinquedos e tudo o que puderem encontrar em lojas de bairro e mercados atacadistas ou mesmo surrupiar de fábricas.
Analistas da internet dizem que esse mercado pujante —que lembra os primeiros dias do eBay, quando os americanos começaram a esvaziar seus sótãos para os leilões on-line— transformou o Taobao na mais nova sensação da internet chinesa.
Embora tenha só seis anos, o Taobao (que em chinês significa “busca pelo tesouro”) tem 120 milhões de usuários registrados e 300 milhões de produtos listados. Seus comerciantes geraram quase US$ 15 bilhões em vendas em 2008.
A companhia alega que as vendas em seu site já são maiores que as de qualquer varejista chinês. E, segundo analistas da internet, as vendas do site neste ano vão superar as da Amazon.com, estimadas em US$ 19 bilhões.
“Esse é o próximo grande segmento da web na China”, disse Jason Brueschke, analista da internet no Citigroup em Hong Kong. “São seu Amazon e seu eBay juntos.”
Como o eBay, o Taobao não vende nada; apenas reúne os compradores e os vendedores. Ele possui uma base firme na China porque muitas áreas do país ainda têm transporte deficiente, e algumas autoridades beneficiam as lojas de propriedade do governo, tornando o sistema de varejo ineficiente.
A recessão global também deixou as fábricas, antes florescentes, lotadas de produtos que o resto do mundo parece não querer.
Os chamados viciados em Taobao estão ajudando a recuperar o ritmo da economia. “Não sei viver sem o Taobao”, disse Zhang Kangni, estudante de graduação de Xangai. “É mais barato. Encontrei um vestido em uma loja de Xangai que custa US$ 175. E no Taobao ele está por US$ 33.”
A empresa não é negociada na Bolsa e portanto não divulga informações financeiras, mas as publicações no Taobao são gratuitas, e a empresa não ganha dinheiro com as transações on-line. Quase toda a receita de US$ 200 milhões do site vem da publicidade, que a companhia diz cobrir virtualmente todos os seus custos operacionais.
“O Taobao é predominante”, diz Richard Ji, analista de internet do Morgan Stanley em Hong Kong. “Eles são como um Wal-Mart on-line.” Ji diz que o Taobao é uma ameaça não apenas para os comerciantes tradicionais, mas também para as grandes empresas chinesas, como Baidu, uma das principais ferramentas de buscas na web, porque concorrem com o Taobao pelos mesmos anunciantes.
O Taobao prosperou, segundo analistas da web, porque as pessoas não precisam de muito capital para começar lojas on-line. Neste ano, o Taobao diz que o site ajudou a criar 500 mil novos empregos, a maioria entre jovens que abriram lojas on-line.
Em Yiwu, o Taobao começou a mudar a aparência do Colégio Industrial e Comercial. Todas as tardes, mesmo no verão, quando a escola deveria estar relativamente vazia, podem-se ouvir os sons de fita sendo enrolada em caixas em um prédio que parece um terminal de uma companhia de remessas por correio.
Yang, o vendedor de cosméticos, tornou-se um herói no campus. Ele opera seus armazéns não longe da escola, no porão de alguns prédios residenciais.
Em seu armazém lotado, junto de caixas de protetor solar Neutrogena, grampos para cabelo, escovas de dentes e um amplo sortimento de cosméticos, Yang diz que os negócios não poderiam estar melhores. “Logo vou alcançar US$ 150 mil por mês em vendas”, ele disse, com um grande sorriso.


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