São Paulo, segunda-feira, 24 de agosto de 2009

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Além do “black tie”, Brioni agora faz camiseta

Por NELSON D. SCHWARTZ

PENNE, Itália — A casa de roupas de grife Brioni é mais conhecida por vestir James Bond em “black tie” e criar ternos sob medida feitos à mão que custam entre R$ 8.000 e R$ 94 mil. Mas, agora, está acrescentando algo bem mais humilde à sua linha: uma camiseta. Com detalhes de luxo como bordado italiano feito à mão e uma etiqueta de cerca de R$ 500, não será uma camiseta comum, é claro. Mas, assim como outras empresas italianas de alta costura, como Armani e Ermenegildo Zegna, cruzaram essa barreira anos atrás, será a primeira oferta desse tipo para a Brioni, cuja imagem —e cujo faturamento— foi construída sobre roupas formais desde sua fundação, em 1945.
É um sinal de como a crise econômica e a mudança de hábitos do consumidor estão forçando até as mais conservadoras indústrias familiares de produtos de luxo a adaptar-se ao novo mundo.
Diferentemente de rivais maiores como a Zegna, a Brioni se recusou a mudar sua fábrica da Itália para países mais baratos como o México. No entanto, os efeitos da crise global sobre a moda chegaram até esses montes da região dos Abruzos, a leste de Roma, onde os alfaiates ainda começam suas carreiras como adolescentes aprendizes.
Enquanto a empresa, que é particular, não faz previsões específicas sobre seu desempenho financeiro este ano, ela admite que o ambiente está difícil. Seu principal executivo, Andrea Perrone, cujo avô foi um dos fundadores da empresa, disse que com sorte a Brioni terá lucro neste ano.
A companhia reportou um desempenho saudável no ano passado. Disse que lucrou 32 milhões de euros (cerca de R$ 87 milhões), sem descontar juros, impostos, depreciação e amortização, sobre um faturamento de cerca de US$ 200 milhões de euros, aproximadamente o mesmo de 2007.
O lançamento da camiseta coincide com a ascensão de uma nova geração na Brioni, cujos alfaiates estão habituados a tirar medidas de pessoas como Nelson Mandela e o príncipe britânico Andrew para ternos e smokings.
“É uma provocação para o mercado”, disse Perrone, 39. “Isso mostra que podemos fazer tudo, desde os sapatos até o chapéu. Mesmo tendo compromisso com sua história, você precisa ter consciência de para onde o mercado está indo.”
O topo do mercado de alta costura está se contraindo mais depressa do que o segmento de roupas masculinas em geral, segundo Claudia D’Arpizio, sócia da consultoria Bain & Company. “Se você tiver muitos ternos bonitos no seu guarda-roupa, pode adiar uma compra”, ela explicou.
Para a Brioni, assim como outras marcas de luxo, as vendas casuais têm sido praticamente o único ponto positivo em meio à queda do mercado. Um golpe a mais, tanto no orgulho da companhia quanto no faturamento, foi a perda da conta de James Bond para Tom Ford, que vestiu o ator Daniel Craig no último filme de 007, “Quantum of Solace”.
Juntamente com a mudança para produtos mais casuais, a Brioni se beneficiou ao abrir novas lojas em mercados emergentes como Rússia, Oriente Médio, Índia e China. Isso ajudou a reduzir a parcela das vendas da Brioni nos EUA para 30%, contra 50% três anos atrás.
No lado negativo, a Brioni foi forçada a cortar os turnos de seus 1.400 alfaiates, costureiros e cortadores nos Abruzos. O governo italiano interferiu para compensar parte das perdas nos pagamentos dos trabalhadores, num reflexo do modo como a maioria das empresas italianas familiares evoluiu.
“Os Abruzos eram uma sociedade muito pobre e fechada, mas a população era de agricultores e tinha comida, e ser um alfaiate era um bom emprego”, disse Luciano Morelli, que começou a trabalhar aos dez anos, cerca de 60 atrás, e hoje é o alfaiate que ensina aprendizes adolescentes na escola de alfaiataria da Brioni. “Era uma região de alfaiates porque você podia trocar 50 quilos de farinha por um paletó.”
O escambo talvez não seja mais o estilo dos Abruzos, mas os antigos hábitos permanecem, disse Angelo Petrucci, o mestre alfaiate principal da Brioni. “Os tecidos ficaram muito mais leves, mas algumas das técnicas que usamos têm 200 anos”, ele disse.


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