São Paulo, segunda-feira, 24 de agosto de 2009

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Telescópio implantado pode ajudar quem tem olhos danificados

Por ANNE EISENBERG

Um pequeno telescópio de vidro, do tamanho de uma ervilha, foi implantado com sucesso nos olhos de pessoas com retinas severamente danificadas, ajudando-as a ler, ver televisão e enxergar melhor os rostos conhecidos.
O novo dispositivo é para pessoas que têm uma forma avançada e irreversível de degeneração macular, em que um ponto cego se desenvolve na visão central de ambos os olhos.
Em um rápido procedimento ambulatorial, um especialista em córnea implanta um telescópio mínimo em um dos olhos, no lugar de sua lente natural.
O telescópio amplia as imagens na retina, estendendo-as de modo que elas caiam em células saudáveis fora da mácula danificada, disse Allen W. Hill, executivo-chefe da VisionCare Ophthalmic Technologies em Saratoga, Califórnia, que fabrica o implante.
Em março, um painel assessor da agência que regula medicamentos e alimentos nos EUA (FDA) recomendou por unanimidade a aprovação do equipamento. A VisionCare diz esperar que a FDA dê a aprovação ainda neste ano. O dispositivo já foi aprovado para uso na Europa.
O telescópio implantado encerra uma grande promessa para os pacientes, geralmente idosos, que sofrem de degeneração macular relacionada à idade em fase terminal, ou AMD, segundo Janet P. Szlyk, membro do painel assessor. Szlyk é diretora-executiva do Farol para Pessoas Cegas ou Visualmente Deficientes de Chicago, agência de serviços sociais.
O equipamento não cura a doença, mas melhora a acuidade visual, ela disse. Por exemplo, uma pessoa que veria um borrão ao olhar para o rosto de um amigo poderia, com a ajuda da imagem ampliada, ver um borrão só na área do nariz ou da boca da pessoa.
“As pessoas podem usá-lo para reconhecer os rostos em um ambiente social”, ela disse. “Isso é um grande avanço.”
O telescópio implantado em um olho é para tarefas como leitura e reconhecimento facial. O outro olho, inalterado, é usado para a visão periférica em outras atividades, como caminhar. Depois do implante, é vital fazer uma longa terapia, ela disse, para aprender a lidar com as capacidades diferentes dos olhos.
A americana Ruth A. Boocks, 86, que recebeu o implante em março de 2003, durante os testes clínicos, disse que seu cérebro aprendeu a se adaptar rapidamente. Boocks usa suas novas capacidades visuais de diversas maneiras —por exemplo, para ler e-mails ou as legendas na TV. “Meu objetivo era ler até o fim as tabelas de acuidade visual”, ela disse. “Mas não consegui.” (Ela chegou até a terceira linha de baixo para cima.)
“Eu me sinto uma moça”, ela disse. “Isso abriu muitas oportunidades para mim.”
Henry L. Hudson, especialista em retina em Tucson, Arizona, e principal autor de dois trabalhos sobre o telescópio publicados em revistas especializadas, disse que o equipamento não é para todos os pacientes de AMD. “Talvez apenas 20% dos candidatos receberão o telescópio”, disse. “Eles podem não se adequar por causa do formato dos olhos”, ou ter outro problema como manter o equilíbrio que impeça sua seleção, ele acrescentou.
O preço do dispositivo ainda não foi definido.
Durante os testes, não houve aumento na incidência de quedas entre os participantes, disse Hudson. Mais de 200 pacientes receberam o implante no estudo, e os efeitos foram acompanhados nesse grupo durante os últimos cinco anos.
“A grande maioria dos pacientes conseguiu se adaptar à nova situação”, usando um olho para caminhar e outro para leitura, reconhecimento facial e tarefas semelhantes, ele disse. “O paciente médio passa de cego a conseguir ler livros com letras grandes.”


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