São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 2011

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ARTE & ESTILO

Um raro sucesso desde 1999

Por BEN SISARIO

Tendo chegado à estratosfera do pop quando a indústria musical iniciava seu declínio de uma década de duração, o Coldplay talvez seja o último em uma linhagem de grandes dinossauros do rock. A banda vendeu mais de 40 milhões de álbuns, um feito difícil de ser repetido hoje.
Mas, ao longo de quase sua carreira inteira, a banda vem tendo que provar que é digna do título de "maior banda". Houve época em que isso significava, em grande medida, superar as críticas segundo as quais era "leve como o Radiohead". Agora, com o lançamento em 24 de outubro de "Mylo Xyloto", o Coldplay se descobre carregando um peso extra, por ser uma das únicas bandas capazes de ter vendas que rivalizam com as dos maiores nomes do pop -o que faz com que seu sucesso seja carregado de simbolismo sobre a viabilidade comercial do rock.
E como se cria um grande álbum de rock à moda antiga? Se você é Chris Martin -para quem a atitude de vocalista cheio de pose e arrogância nunca foi algo natural-, você começa por assistir a vídeos de Springsteen e Dylan.
"Eu assisti a muita coisa sobre 'Darkness on the Edge of Town', muita coisa sobre 'Blonde on Blonde' e 'Sgt. Pepper's', todos esses álbuns de verdade", comentou Martin, 34. "Embora o álbum seja uma espécie em risco de extinção, será que poderíamos tentar fazer um que fosse coerente e bom?"
O Coldplay é uma banda do século 21 com ambições do século 20, das quais já realizou a maioria. Ela vem se conservando monstruosamente popular, ao mesmo tempo em que o rock vem perdendo espaço nas paradas e encolhendo como gênero musical nas rádios. O último álbum da banda, "Viva la Vida or Death and All His Friends", recebeu três prêmios Grammy e foi o álbum mais vendido de 2008, mais uma vez criando grandes expectativas.
"Mylo Xyloto" é a tentativa do Coldplay de criar um álbum conceitual, estruturado a grosso modo como uma história de amor que acontece em uma distopia orwelliana. Mas, enquanto "álbum conceitual" com frequência é igual a "desastre de vendas", "Mylo Xyloto" é cheio das melodias envolventes, piano suave e guitarra ágil que os fãs do Coldplay já esperam, além de novidades. Há até uma participação de Rihanna em "Princess of China", uma faixa que pende para o R&B.
Jonny Buckland, 34, o guitarrista, descreve o disco como a destilação de dois álbuns planejados, um acústico e o outro eletrônico.
A banda buscou novamente a ajuda de Brian Eno, o produtor de Davie Bowie e Talking Heads, que assessorou o Coldplay na grande reinvenção da banda em "Viva la Vida". Eno recebe um crédito misterioso por "enoxificação" no novo álbum, mas "Mylo Xyloto" foi produzido por Markus Dravs, Daniel Green e Rik Simpson.
"Mylo Xyloto" traz algumas cores novas para a paleta do Coldplay, como os elementos eletrônicos comprimidos que deram o tom tenso em "Hurts Like Heaven". Porém, mal é preciso aguardar 30 segundos nessa faixa antes da chegada de uma explosão de Coldplay clássico: os "ooohs" otimistas em falsete de Chris Martin e uma onda calorosa de guitarra.
"Eles são uma das poucas bandas de sua geração capazes de transcender formatos múltiplos nas rádios: rock, alternativo, Top 40", disse Tom Poleman, presidente de plataformas de programação nacionais da Clear Channel, gigante de rádio americana. "Quando você possui essa fórmula, é como ter encontrado ouro."
Desde o começo, os membros do Coldplay -além de Martin e Buckland, há o baixista Guy Berryman e o baterista Will Champion, ambos com 33 anos- vêm se esforçando para equilibrar seus papéis de sucesso musical internacional e de quatro sujeitos simpáticos.
Eles se conheceram na escola em Londres nos anos 1990 e ficaram famosos em 2000 com "Yellow", uma canção de amor que mostrou que a jovem banda tinha absorvido o que o U2 e o Radiohead tinham de melhor.
Naquela época, Chris Martin era tímido demais sobre o palco para se aventurar muito longe de seu piano, mas ele não demorou a conquistar os conhecimentos dos showmen do rock'n'roll.
"Ainda estou aprendendo", ele comentou, "mas tenho professores maravilhosos: Mick Jagger, Bruce Springsteen, Bono Vox."
Ele se casou com a atriz Gwyneth Paltrow em 2003, e os tabloides registram cada passo que dão. Com seus colegas de banda em segundo plano, as tensões explodiram e Martin chegou a dizer que pensava em uma carreira solo.
O Coldplay também vem tendo que enfrentar um contingente grande e expressivo de pessoas que o criticam com ferocidade, mas nada silencia os "do contra" tanto quanto a sobrevivência.
"Desde que começamos a tocar, metade das bandas que vimos chegar também já vimos acabar", disse Chris Martin.
Parece provável que a banda lidere as paradas outra vez, mas, com todos os números do setor musical reduzidos, já não está claro o que constitui um sucesso.
Para Martin o álbum já é um sucesso. "É um desafio, mas porque você sabe que a recompensa será um estádio inteiro de pessoas no México acompanhando você cantar, é uma injeção de adrenalina tão grande que justifica as horas pensando 'meu Deus, isto daqui não vai funcionar'. Se você entende que o todo é maior que as partes, isso é sua passagem para dar a volta ao mundo", disse.


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