São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2008

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ANÁLISE

Desta vez, Sudeste Asiático observa a crise à distância

Da Indonésia à Tailândia, o estrago é menor que em 1997

Por THOMAS FULLER

BANCOC - Os vestígios da última crise financeira ainda são vistos por esta extensa cidade, nos prédios semi-acabados cobertos de manchas de ferrugem e mofo, lembranças da bolha imobiliária de uma década atrás que explodiu com um forte estrondo.
A crise de 1997 foi de tirar o fôlego por sua imprevisibilidade e ferocidade. Os bancos desmoronaram, companhias naufragaram e antigos milionários, desesperados por dinheiro, venderam seus bens no que ficou conhecido como o mercado dos ex-ricos.
Hoje, quando outra crise financeira global se desenrola, os sinais de perturbação no Sudeste Asiático são muito mais sutis. O tráfego diminuiu 6% nas vias expressas de Bancoc. Os agricultores indonésios que colhem o fruto vermelho das palmeiras oleaginosas têm dificuldade para encontrar compradores. O preço das casas no Vietnã, país relativamente novato no capitalismo, caiu 30% nos últimos meses, depois de anos de aumentos acentuados.
As bolsas do Sudeste Asiático escorregaram para baixo quase ao mesmo tempo que as de Nova York, Londres e Tóquio. Mas fora das salas de pregão não há nada do pânico palpável de uma década atrás, quando a região foi o epicentro do que os tailandeses chamaram de “crise tom yam” —nome de famosa sopa picante.
“Na última vez foi auto-infligida; a crise se originou na Ásia”, disse Mark Tan, economista da Goldman Sachs em Hong Kong. Desta vez o contágio está se irradiando dos EUA e da Europa, os maiores clientes da região.
“A redução inicial do crescimento não será tão ruim quanto na crise asiática, mas isso também significa que a recuperação será mais lenta e demorada, porque a demanda por exportações será muito mais fraca”, disse Tan.
Sem a urgência da última crise, as voltas do turbilhão financeiro no Ocidente foram recebidas aqui como a notícia de uma praga distante. O reconhecimento provavelmente virá no ano que vem. Quando as encomendas de exportações caírem, as fábricas diminuirão o ritmo, e o principal motor das economias do Sudeste Asiático falhará, dizem economistas e planejadores dos governos.
Os Sudeste Asiático saiu da última crise exportando produtos baratos que ficaram ainda mais baratos devido à desvalorização de suas moedas. Os EUA, que ainda desfrutavam seu boom tecnológico em 1999, devoraram os artigos eletrônicos, confecções e brinquedos produzidos na região.
Desta vez, os endividados consumidores americanos não parecem ter meios para manter as fábricas asiáticas funcionando. Ao contrário, a nova frugalidade dos americanos provavelmente vai arrastar o Sudeste Asiático para baixo. A Tailândia e o Vietnã dependem fortemente das exportações para mover o crescimento econômico. Para a Malásia e Cingapura, os mercados internacionais são ainda mais cruciais para a prosperidade doméstica.
“Tivemos um crescimento liderado pelas exportações durante mais de 30 anos”, disse Pansak Vinyaratn, ex-assessor econômico do governo tailandês. “Não nos preparamos para o investimento em crescimento interno.”
Trabalhadores podem ser demitidos, e imigrantes, mandados para casa, mas os economistas prevêem uma desaceleração, e não uma recessão. Em 1997, o caráter repentino da crise colocou um empresário do setor imobiliário falido na rua vendendo sanduíches. A economia da Tailândia encolheu incríveis 10% em 1998.
Esta crise, quando medida pelo crescimento econômico, está prevista para ser muito menos grave. Os governos, que hoje têm maiores reservas monetárias e déficits relativamente menores comparados com os da década de 1990, já anunciaram planos para aumentar os gastos para manter as economias em movimento.
A Indonésia, que buscou ajuda do FMI da última vez, tem muito mais margem de manobra. A dívida pública do país caiu significativamente de mais de 100% do tamanho de sua economia, oito anos atrás, para cerca de 36% hoje.
A queda dos preços do petróleo é boa notícia para a Indonésia, onde os subsídios formam uma grande parte do Orçamento do governo. Os pobres também poderão se beneficiar. Juntamente com o combustível, o preço do arroz caiu acentuadamente.
“A inflação neste ano é de 6%; no ano que vem será a metade”, disse Supavud Saicheua, diretor-gerente da Phatra Securities em Bancoc. “Os pobres e a classe trabalhadora nas fábricas definitivamente vão se beneficiar.”

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