São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Titãs da web encontram barreiras na China

Por DAVID BARBOZA
e BRAD STONE
XANGAI - Se o Google sair da China por estar frustrado com as restrições impostas pelo governo chinês, não será a primeira vez que um gigante americano da internet terá batido em retirada do país.
O eBay e o Yahoo! chegaram à China com grandes esperanças de um mercado que, entretanto, não satisfez suas expectativas. Sites como Facebook, MySpace e Twitter tampouco conseguiram firmar presença significativa ali.
Nenhuma grande empresa americana da web conseguiu dominar em sua área na China. Muitos especialistas pensavam que o Google seria a primeira a fazê-lo. "Nenhuma empresa americana de internet chega perto de ser líder aqui", comentou Gary Rieschel, fundador da firma de investimento Qiming Venture Partners. "E, na maioria dos casos, os danos que sofreram foram autoprovocados."
Embora cada fracasso tenha sido diferente, analistas dizem que os diversos casos podem ajudar a explicar porque o Google está frustrado -não apenas com os censores do governo, mas com sua incapacidade de alcançar sua grande rival chinesa, Baidu.
Titã da internet, o Google está levando uma surra na China, onde domina só 33% do mercado de motores de busca, contra 63% da Baidu. Desde seu ingresso formal na China, há cinco anos, a empresa aumentou sua presença no mercado, mas quase todo esse crescimento se dá às expensas de rivais menores. No mesmo período, a presença da Baidu também cresceu.
Ninguém previa esse desfecho. As gigantes americanas foram para a China armadas com dinheiro, propriedade intelectual e a capacidade de administrar redes complexas e profissionais introvertidos.
O Google montou sua operação na China em 2006, após ter investido na Baidu e, ao que consta, tentado comprar essa empresa, sem sucesso. Fundada em 2000, a Baidu cresceu ao oferecer algo que o Google se recusou inicialmente: links para downloads de canções, programas de TV e filmes pirateados de sites chineses.
Em 2009, o próprio Google acabou lançando um serviço de música on-line gratuita na China, com a autorização das gravadoras, sem conseguir recuperar o terreno perdido. Mas o Google diz que sua ameaça de deixar a China não tem relação com considerações financeiras.
Talvez nenhuma empresa tenha tropeçado tanto na China quanto o Yahoo!. Em 2004, ele comprou uma empresa local para ampliar sua presença na web e competir com a Baidu e o portal local Sina.com. Sem conseguir ganhar terreno, o Yahoo! mudou de direção de uma hora para outra, pagando US$ 1 bilhão por uma participação de 40% na Alibaba, uma gigante local da internet, que, então, assumiu o controle de seus negócios na China.
Em 2004, a ONG Médicos Sem Fronteiras revelou que dissidentes chineses tinham sido presos porque o Yahoo! deixou o governo chinês acessar o conteúdo de suas contas de e-mail. Nos anos seguintes, executivos do Yahoo! foram levados ao Congresso dos EUA e repreendidos pelo incidente.
Em 2003, o eBay comprou a EachNet, importante empresa de leilões chinesa, e durante um curto período de tempo controlou 80% do mercado chinês de comércio eletrônico. Mas então foi passada para trás. O eBay cobrava pelos anúncios de objetos à venda postados em seu site. Enquanto isso, uma empresa recém-fundada local -a Taobao.com, site de leilões da Alibaba voltado aos consumidores- publicava os anúncios gratuitamente. Ao contrário da Taobao, o eBay tampouco oferecia maneiras de compradores e vendedores baterem papo on-line.
O eBay se rendeu e abandonou a China em 2006, deixando o mercado para a Taobao, que hoje supera de longe o site chinês de comércio eletrônico da Amazon.
A mais recente a apresentar performance decepcionante foi a MySpace, que em meados de 2007 montou um negócio chinês de propriedade local. Mas milhares de pessoas já usavam os serviços sociais de empresas locais de internet, como a Tencent, que opera um bazar de entretenimento on-line e é avaliada em US$ 37 bilhões.
Muitos executivos e especialistas americanos na China se queixam de que as condições de trabalho lá são desiguais. As empresas americanas que querem operar na China precisam fazê-lo por meio de firmas de propriedade local, fato que cria uma estrutura pesada e limita sua flexibilidade. Também sofrem com a censura do governo e o favoritismo das firmas locais.
Mais que tudo, a internet chinesa é vibrante e caótica. Há blogs locais crescentes e sites de entretenimento e jogos on-line. Enquanto isso, magnatas da internet chinesa como Jack Ma, da Alibaba, Robin Li, da Baidu, e Pony Ma, da Tencent, são figuras nacionalmente conhecidas e elogiadas. "É difícil superar os empreendedores chineses em matéria de flexibilidade e tática", diz Rieschel, da Qiming Ventures.


Colaborou com pesquisa Bao Beibei



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