São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Supercomputadores na corrente dominante

Laboratório Nacional Oak Ridge
O supercomputador Jaguar, no Laboratório Nacional Oak Ridge, nos EUA, conecta milhares de chips de computador comuns

Por ASHLEE VANCE
PORTLAND, Oregon - Por décadas, os supercomputadores do mundo foram propriedade de universidades e governos, e muito bem guardados. Mas o que aconteceria se pessoas comuns pudessem pôr suas mãos em um deles?
O preço dos supercomputadores está caindo, em parte porque muitos são construídos com as mesmas peças dos PCs domésticos, como esclareceu uma conferência recente realizada em Portland (EUA). Hoje, praticamente qualquer grupo com alguns milhões de dólares pode comprar ou montar uma máquina para altos voos.
Enquanto isso, grupos de pesquisa e empresas como IBM, HP, Microsoft e Intel estão encontrando maneiras de tornar disponíveis on-line vastos repositórios de informação, por meio da chamada computação em nuvem.
Esses avanços estão derrubando os muros que cercam a pesquisa intensiva em computação. O resultado poderá ser uma democratização que dê a pessoas comuns com uma ideia nova a oportunidade de explorar sua curiosidade com alto poder de computação -e talvez descobrir algo inesperado.
A tendência levou especialistas e cientistas do mundo a trabalhar para liberar valiosos acervos de informação. O objetivo é encher os grandes computadores com dados científicos e permitir que qualquer pessoa no mundo que tenha um PC, incluindo cientistas amadores, use esses sistemas.
"É um bom chamado às armas", disse Mark Barrenechea, principal executivo da Silicon Graphics, que vende sistemas de computação para laboratórios e empresas. "A tecnologia existe. A necessidade existe. Isto poderá aumentar exponencialmente o volume de ciência que se faz em todo o mundo."
A ideia de importantes centros de pesquisa compartilharem informação não é nova. Algumas das primeiras encarnações da atual World Wide Web ganharam vida para que físicos e outros cientistas pudessem utilizar grandes volumes de dados à distância.
Além disso, os laboratórios de universidades e do governo foram os primeiros defensores do que se popularizou como computação em grade (grid computing), onde foram criadas redes compartilhadas. O pensamento atual, porém, é que os laboratórios podem realizar muito mais do que era possível antes, aproveitando tendências que invadem a indústria de tecnologia. E, desta vez, órgãos de pesquisa, grandes e pequenos, junto com indivíduos inteligentes, podem participar da agenda de compartilhamento.
Os cientistas têm examinado serviços de computação em nuvem, como o software de escritório on-line do Google, sites de compartilhamento de fotos e o programa de aluguel de banco de dados da Amazon. Eles estão tentando trazer essa tecnologia baseada na web para seus laboratórios e fazê-la manipular enormes volumes de dados.
"Você já viu esses aplicativos de desktop migrarem para a nuvem", disse Pete Beckman, diretor da Argonne Leadership Computing Facility. "Hoje a ciência está no mesmo rumo. Isso ajuda a democratizar a ciência e as boas ideias."
Com US$ 32 milhões do Departamento de Energia dos EUA, a Argonne começou a trabalhar no projeto Magellan, para explorar a criação de uma infraestrutura de computação em nuvem que poderá ser usada por cientistas de todo o mundo. Beckman afirmou que esse sistema reduziria a necessidade de universidades e laboratórios menores gastarem com sua própria infraestrutura de informática.
Mesmo indivíduos curiosos fora do mundo acadêmico podem ter uma chance de pesquisar coisas como mudança climática e análise de proteínas. "Algum matemático na Rússia pode dizer: 'Eu tenho uma ideia'", disse Beckman. "A barreira para entrar é tão baixa que ele poderá experimentar essa ideia. Então isso realmente amplia o número de descobridores e, possivelmente, de descobertas."
A indústria da computação possibilitou essa discussão. Historicamente, os principais supercomputadores do mundo tinham componentes caros e com direitos de propriedade. Laboratórios de governos pagaram caro para usar tais sistemas em projetos secretos.
Mas, nos últimos dez anos, os componentes vitais dos supercomputadores se tornaram mais correntes.
Na conferência, estudantes de graduação competiram em um concurso para construir minissupercomputadores por um preço acessível. E um supercomputador chamado Jaguar, do Laboratório Nacional Oak Ridge, no Tennessee, tornou-se oficialmente a máquina mais rápida do mundo.
"A tecnologia de supercomputação é acessível", disse Margaret Lewis, diretora da Advanced Micro Devices. "Parece que estamos nos afastando da torre de marfim."


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