São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Grifes famosas do Japão são ignoradas no mundo


Tóquio envia embaixadores de moda ao exterior


Por HIROKO TABUCHI
TÓQUIO - Os pioneiros da moda de rua japonesa causam inveja a estilistas ocidentais, levando à criação de sites na web repletos de fotos de jovens de Tóquio trajando os mais recentes jeans rasgados ou meias-calças psicodélicas.
Mas a maioria dos estilistas de Tóquio ainda não descobriu como capitalizar em cima do senso de moda da cidade. Para especialistas, a indústria de moda japonesa é demasiado fragmentada e focada no mercado doméstico.
"Durante boa parte desta década, as tendências da moda começaram no Japão e se globalizaram. Mas as grifes japonesas nem sequer se dão conta disso", disse o consultor de moda Loic Bizel, francês radicado em Tóquio. O Japão "gera tendências e ideias, mas a coisa fica só nisso", disse. "Muitas grifes nem sequer têm interesse em ir para o exterior."
Por essa razão, a cada temporada, Bizel leva compradores de moda dos EUA e da Europa a Tóquio para adquirirem malas inteiras dos sucessos mais recentes. As criações são retrabalhadas e vendidas com etiquetas ocidentais.
Em 2008, as exportações japonesas de roupas e artigos afins totalizaram apenas US$ 416 milhões -uma ninharia, comparada aos US$ 3,68 bilhões exportados por empresas de roupas americanas, e uma minúscula fração dos US$ 13 bilhões exportados pela China.
O governo está tentando ajudar. O Ministério do Exterior nomeou três jovens lançadoras de tendências como "embaixadoras" do estilo japonês. Uma delas é Misako Aoki, modelo de visual Lolita que usa vestidos cheios de rendas, acompanhados de sapatos plataforma. Ela foi enviada para França, Espanha, Rússia e Brasil, onde tem comparecido a feiras e apresentado "talk shows" sobre moda.
O Ministério do Comércio vem ajudando a revitalizar o evento semestral Tokyo Collection e começou a convidar jornalistas estrangeiros a assistirem, com as despesas pagas pelo governo. Neste ano, pela primeira vez, a coleção, rebatizada de Japan Fashion Week, patrocinou um evento de moda sucessor em Nova York.
Mas os esforços do governo não lhe valeram muitos fãs no setor da moda. Além de Aoki, as outras duas embaixadoras da moda são uma mulher que veste uniformes colegiais sedutores e outra que mistura roupas seminovas em seu look. Muitos afirmam que promover gostos tão singulares como esses não ajuda muito a divulgar a indústria de moda maior.
E a Japan Fashion Week continua a ter pouco destaque. Os estilistas jovens e ambiciosos que desejam obter o sucesso de grandes nomes japoneses como Issey Miyake e Yohji Yamamoto talvez precisem seguir o caminho destes: abrir mão dos desfiles em Tóquio, de olho nos de Paris.
Para especialistas, a moda do Japão precisa mesmo é de mais ajuda para divulgar-se e abrir lojas no exterior, além de proteger seus direitos de propriedade intelectual.
Há a sinais animadores. Com apoio do governo, foi aberta a nova empresa Xavel, que promove desfiles nos quais as mulheres podem pedir criações em tempo real com a ajuda de seus celulares. A empresa vem organizando desfiles em Paris e Pequim.
A Fast Retailing, que vende a grife Uniqlo, tem feito investidas no exterior. Tadashi Yanai, seu executivo-chefe, disse que espera fazer dela a maior empresa de roupas do mundo. "Fazemos parte de uma economia global", disse Yanai recentemente. "Não podemos olhar para dentro."


Colaborou Moshe Komata



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