São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Dados de satélite da CIA ajudam a estudar o clima


Rede espiã dá aos cientistas uma visão melhor da Terra


Por WILLIAM J. BROAD
Os principais cientistas e espiões dos EUA estão colaborando em uma iniciativa para usar equipamentos e informações de inteligência do governo americano -incluindo satélites espiões e outros sensores secretos- para avaliar as complexidades ocultas da mudança climática. Eles buscam informações sobre fenômenos naturais como nuvens e geleiras, desertos e florestas tropicais.
A colaboração retoma um esforço cancelado pelo governo Bush e tem apoio do diretor da CIA (agência de inteligência americana). No ano passado, como parte da iniciativa, os colaboradores vasculharam imagens do gelo do oceano Ártico feitas por satélites de reconhecimento, na tentativa de distinguir coisas como derretimentos de verão e tendências climáticas, e tiveram acesso a imagens antes secretas do banco de gelo para acelerar a análise científica.
O conjunto de imagens é "realmente útil", disse Norbert Untersteiner, professor da Universidade de Washington especializado em gelo polar e que é membro da equipe de espiões e cientistas por trás do esforço.
Os cientistas "não têm como mandar 500 pessoas" ao topo do mundo para equiparar os ganhos da inteligência, disse Untersteiner, acrescentando que as novas compreensões poderão um dia resultar em previsões de gelo. "Isso será muito importante econômica e logisticamente", ele acrescentou, afirmando que o derretimento do Ártico abrirá novos campos de pesca e rotas de navegação marítima, o que incentivará a caça por petróleo e gás submarinos que valem centenas de bilhões de dólares.
O programa de monitoração tem pouco ou nenhum impacto sobre a coleta de inteligência habitual, dizem autoridades, mas libera informação secreta já coletada ou aproveita oportunidades para registrar dados ambientais quando sensores secretos estão ociosos ou passando sobre regiões naturais.
O sigilo envolve o esforço de monitoramento, assim como o trabalho de inteligência do país, porque os EUA querem manter secretas as capacidades de seus satélites espiões e outros sensores. As imagens que o grupo científico revelou, por exemplo, tiveram sua nitidez reduzida para ocultar a capacidade dos satélites de reconhecimento.
O uso de equipamentos da inteligência federal para monitoração foi criticado. Em outubro, dias após a CIA abrir uma pequena unidade para avaliar as implicações da mudança climática na segurança, o senador republicano John Barrasso disse que a agência deveria combater os terroristas, "e não espionar leões-marinhos".
Já uma autoridade federal que falou sob condição de anonimato defendeu o monitoramento científico como uma exploração muito útil do campo da inteligência.
Ralph J. Cicerone, presidente da Academia Nacional de Ciências e membro da equipe de monitoração, disse que o programa é "basicamente gratuito".
"As pessoas que não conhecem os detalhes são as que estão se queixando", disse Cicerone.
Cerca de 60 cientistas -principalmente acadêmicos, mas incluindo alguns de agências industriais e federais- conduzem o lado científico da iniciativa. Eles obtêm orientação da Academia Nacional de Ciências, um corpo de elite que assessora o governo dos EUA.
Cicerone disse que o esforço oferece uma oportunidade para se coletar dados ambientais de outro modo inacessíveis, e fazê-lo com uma regularidade capaz de revelar a dinâmica da mudança ambiental.
"Provavelmente é tolo pensar que vai durar 50 anos", ele disse sobre o programa. "Por outro lado, existe potencial para que essas coletas continuem por muito tempo."
O governo Obama pouco falou sobre a iniciativa em público, mas a apoiou internamente, segundo autoridades. Em novembro, cientistas reuniram-se com o diretor da CIA, Leon Panetta.
"Panetta acredita que é crucial examinar as potenciais implicações para a segurança nacional de fenômenos como a desertificação, o aumento do nível do mar e mudanças populacionais", disse a porta-voz da CIA, Paula Weiss.


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