São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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A arma é de verdade. Mas e o distintivo?

Por RAY RIVERA
É possível que nenhuma ferramenta do trabalho policial carregue o mesmo significado legal ou emocional que o distintivo -algumas gramas de liga de níquel recobertas de uma insígnia e um número. Nas famílias de policiais, os distintivos costumam ser legados por pais a seus filhos. Quando novatos, os policiais são ensinados a guardar seus distintivos com cuidado e conservá-los à mão, estando ou não em serviço.
Em Nova York, porém, cidade que já virou quase sinônimo de alto nível de segurança, alguns policiais não usam seus distintivos quando saem em patrulhas. Em vez disso, usam distintivos falsos.
Conhecidos como "dupes", ou duplicatas, esses distintivos falsificados com frequência são um pouco menores que os reais, mas, tirando isso, são idênticos. Os policiais os usam porque a perda de um distintivo real pode implicar em muita burocracia e uma multa pesada, que pode chegar a dez dias de salário.
Embora o uso de distintivos falsos viole as normas da polícia, ele está enraizado na cultura e história do Departamento de Polícia de Nova York. A estimativa sobre quantos dos 35 mil policiais da cidade usam "dupes" varia entre algumas centenas e alguns milhares -cerca de 25 policiais por ano sofrem medidas disciplinares por seu uso-, mas a prática tem se tornado mais complicada desde o 11 de Setembro e o aumento dos receios de que pessoas se façam passar por policiais.
"Lembro-me de ter tomado conhecimento disso em 1965", disse um ex-chefe do departamento, Louis R. Anemone, que se aposentou em 1999. "Eu nunca usei, mas conheço alguns que o usaram."
A lei dos EUA proíbe a venda ou compra de distintivos policiais falsificados. Muitas pessoas sugerem que a prática esteja diminuindo, mas, alguns anos atrás, quando o deputado Anthony D. Weiner, democrata que representa parte do Brooklyn e de Queens, fez pressão por uma legislação mais dura contra o tráfico de distintivos, ele recebeu a visita de um representante do sindicato dos policiais.
"Deixaram a impressão de que, se não incluíssemos na legislação uma medida de isenção para policiais, isso atrapalharia muitos policiais de baixo escalão que fazem cópias de seus próprios distintivos", ele recordou.
Ex-policiais contaram que compravam falsos distintivos na internet ou em lojas de equipamentos para policiais, por entre US$ 25 e US$ 75, mas várias lojas contatadas disseram não vender esses itens.
Suspeita-se também de uma joalheira em Chinatown. "Todo o mundo sabe onde procurar", disse Anemone.
Alguns policiais acabaram notando que a perda de um distintivo falso pode causar várias dores de cabeça.
Um antigo policial, que exigiu anonimato para falar, disse que seu distintivo falso, que ostentava seu número de identificação real, era um problema potencial tão grande quanto o distintivo original. "Se você deixar cair qualquer um deles na rua, verdadeiro ou falso", disse ele, "e alguém o entregar à polícia, alguém vai perguntar: 'Este é o distintivo de fulano de tal?'".
Michael J. Palladino, presidente do sindicato de investigadores de Nova York, disse que o uso de distintivos falsos era comum 30 anos atrás. "Mas acho que essa mentalidade mudou", disse.
Outros discordam. O ator Eliot Slash, 53, que fazia distintivos para o cinema e a TV, contou que muitos de seus melhores clientes eram policiais de Nova York.
"Eu tinha amigos nas diferentes delegacias", contou. "Eu entrava lá, e eles diziam: 'Lá vem o homem dos distintivos'. Todo o mundo me conhecia."


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