São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 2011

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Dino cresceu comendo vegetais

Por JOHN NOBLE WILFORD

Os saurópodes eram diferentes dos outros dinossauros. Eles foram os maiores animais terrestres que já viveram no planeta; consumiam tudo o que encontravam pela frente. O pescoço de um saurópode era muito mais comprido que o de uma girafa, e suas caudas eram igualmente longas.
Cientistas estão redobrando seus estudos sobre a biologia incomum desses espantosos animais herbívoros da era mesozóica, especialmente os apatossauros (antes conhecidos como brontossauros), braquiossauros e diplódocos. Qual teria sido a estratégia fisiológica do coração, pulmões e metabolismo que possibilitou à maior espécie de saurópode viver ao longo de 140 milhões de anos? Como esses dinossauros conseguiam alimento suficiente para atingirem comprimentos entre 4,6 e 46 metros e pesos estimados em até 70 toneladas? Vale lembrar que um mero elefante precisa passar 18 horas por dia comendo.
Um grupo de cientistas alemães e suíços se ocupa há mais de sete anos em tentar responder a essa e outras perguntas. Descobertas de muitos outros cientistas foram revistas e analisadas para depois serem testadas com novos experimentos.
Uma explicação clara emergiu: graças ao alcance proporcionado por seus pescoços longos, esses gigantes engoliam refeições enormes. Sem molares em suas cabeças relativamente pequenas, deixavam a cargo dos sucos digestivos de seus corpos grandes a tarefa de decompor os alimentos que ingeriam.
Parece que essa teria sido a única maneira eficaz de os saurópodes satisfazerem seus apetites e se diversificarem para formar cerca de 120 gêneros, processo que teve início há mais de 200 milhões de anos. Eles acabaram por dominar a Terra, extinguindo-se há 65 milhões de anos juntamente com os dinossauros não aviários.
Os pesquisadores acabam de divulgar relato abrangente, "Biology of the Sauropod Dinosaurs". Sander é um dos editores do livro e também curador convidado de uma grande exposição, "Os Maiores Dinossauros do Mundo", no Museu Americano de História Natural, em Manhattan, previsto para ficar até 2 de janeiro.
A exposição vai incluir um modelo em tamanho natural de um mamenquissauro fêmea de 18 metros de comprimento cujos ossos fossilizados foram descobertos na China. O animal viveu 160 milhões de anos atrás e, possivelmente, fazia parte de um rebanho. Pesava 12 toneladas métricas e consumia 522 quilos de vegetação por dia. O pescoço de nove metros de comprimento do modelo e seu crânio pequeno ilustram a biologia e o comportamento excepcionais dos saurópodes.
Os saurópodes tinham os pescoços mais compridos, em proporção com seus corpos, de todos os dinossauros conhecidos. Sander e seus colegas pensam que os responsáveis por isso são a ausência de mastigação e a reprodução ovípara dos saurópodes.
Pelo fato de não mastigarem, os animais não tinham necessidade de mandíbulas fortes ou de um conjunto completo de dentes grandes. Eles possuíam apenas dentes incisivos frontais, para cortar vegetação, de modo que suas cabeças permaneceram pequenas e leves. A cabeça de um elefante africano, por exemplo, pesa 454 quilos; a cabeça de um mamenquissauro pesava apenas 20 quilos.
O pescoço longo capacitava esses animais a pastar em um raio muito maior de vegetação terrestre sem precisarem se movimentar. Os saurópodes conseguiam mais alimento que outros herbívoros, e, com o tempo, como escreveu um cientista, seus pescoços lhes permitiram "ingressar no nicho dos gigantes". E o gigantismo talvez fosse sua melhor defesa contra predadores.
Outra característica primitiva, a reprodução ovípara, aumentava o número de sua prole e, desse modo, favoreceu as chances de sobrevivência de longo prazo da espécie -e o tempo de que ela dispôs para inovar.
Em uma conclusão preliminar, Sander e Marcus Clauss, especialistas em dinossauros junto à Universidade de Zurique, escreveram que os saurópodes desenvolveram gradualmente o que parece ter sido um índice de crescimento alto, um sistema respiratório semelhante ao das aves e um índice metabólico flexível. Sander citou o modelo pulmonar aviário como inovação importante. Clauss escreveu que esses gigantes poderiam constituir "um exemplo raro de herbívoros que se beneficiaram do aumento em suas dimensões corporais".
Em outras palavras: quanto maiores eles se tornavam, maior ficava sua capacidade de armazenar o volume enorme de alimentos que ingeriam.
Claus e Jurgen Hummel, o último da Universidade de Bonn, conduziram experimentos com fermentação para estimar que os dinossauros gigantes, provavelmente, levavam duas semanas para digerir o alimento que consumiam ao longo de um dia.
Outros cientistas, não envolvidos no estudo, qualificaram a pesquisa como impressionante.
"Não estou certo que eles tenham acertado em tudo", disse o paleontólogo Peter Dodson, da Universidade da Pensilvânia. "Mas com certeza tiveram vários insights importantes."


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