São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 2011

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Clonando sequóias para salvar o planeta

Por JESSE McKINLEY

FORT DICK, Califórnia - O cepo gigantesco que se ergue ao céu como uma faca irregular em um beco sem saída nesta cidade do norte da Califórnia aparenta estar morto. Mas Michael Taylor, caçador profissional de árvores de grande porte, sabe que a verdade é outra.
"Esta parte do cepo está parcialmente viva", ele explicou, apontando para dezenas de brotos verdes que nasciam do tronco cortado.
São justamente esses brotos que estão ao cerne de um plano idealizado por um grupo de entusiastas de árvores para clonar -e então produzir em massa- um conjunto de sequóias gigantes, algumas das quais datam de antes do nascimento de Jesus e podem atingir alturas superiores à de um prédio de 40 andares. As sequóias são os seres vivos mais altos do planeta.
"Queremos conseguir as maiores e melhores representações genéticas da espécie", diz David Milarch, co-fundador do Arquivo Archangel de Árvores Antigas. "E criar milhões e milhões delas." Milarch diz que sua missão é grandiosa, porém simples: reflorestar a terra com uma variedade das espécies de árvores mais interessantes de várias partes do mundo e, por extensão, sustar e inverter as mudanças climáticas.
A abordagem de Milarch é única. Clonar plantas é um trabalho muito menos difícil ou sofisticado que clonar animais ou outras formas de vida, mas pode ser delicado. Bill Werner e outros divulgadores do projeto empregam métodos diversos para clonar dois tipos de sequóias: as sequóias costeiras e as gigantes. Um dos métodos usados é a chamada micropropagação, na qual, basicamente, se empregam amostras minúsculas de plantas, alimentadas com doses pesadas de hormônios sintéticos de crescimento e cultivadas em um ambiente de laboratório, para criar plantas geneticamente idênticas.
Werner usou mudas pequenas de brotos e outros materiais vegetais, incluindo algumas mudas retiradas da parte superior de sequóias gigantes. Cuidou delas até que começassem a crescer e, mais tarde, a deitar raízes. Em seguida, elas foram transplantadas para solos enriquecidos, onde agora estão com vários centímetros de altura.
Milarch acredita que talvez seja a primeira vez em que árvores antigas, como é o caso das sequóias, tenham sido clonadas dessa maneira.
"O que Bill realizou é algo entre o que pensávamos ser difícil e o que considerávamos impossível", comentou William J. Libby, professor emérito de engenharia florestal e genética na Universidade da Califórnia em Berkeley e consultor do projeto Archangel. Os esforços de Milarch para capturar o DNA de árvores famosas, algo no qual vem trabalhando há quase duas décadas, vêm suscitando receios entre outros arboricultores, como também têm feito seu plano de vender os clones, algo que ele afirma ser necessário para financiar seu projeto.
Connie Millar, cientista pesquisadora do Serviço Florestal dos Estados Unidos, disse que não é necessariamente verdade que são as árvores maiores e mais antigas que possuem os melhores genes. Alguns cientistas estão curiosos para saber se as réplicas terão as mesmas defesas genéticas contra doenças ou mudanças ambientais que a evolução desenvolveu nas florestas de hoje.
E Scott Steen, executivo-chefe da American Forests, questionou a praticidade das sequóias antigas. "A sequóia não é o tipo de árvore que você possa plantar em seu quintal, a não ser que possua um quintal excepcionalmente grande", disse ele. "Também não é realmente possível plantar sequóias em ruas de cidades."
Milarch disse que o grupo selecionou as árvores por "sua longevidade, capacidade de sobrevivência e habilidade natural de beneficiar e reparar o meio ambiente".
As sequóias foram derrubadas em grande número no século 20, para o aproveitamento de sua madeira. Hoje, restam apenas cerca de 5% das sequóias nativas antigas.
E os cepos que restam frequentemente são vistos como incômodo. Para Michael Taylor, eles valem dinheiro. Milarch o paga por cada cepo que ele encontra. Em Fort Dick, Taylor andou em volta de um cepo apelidado de Big Snap, que tem 7,5 m de diâmetro. "Esta foi uma árvore imensa, e talvez volte a ser uma árvore imensa outra vez", disse.


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