São Paulo, segunda-feira, 25 de maio de 2009

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Dinheiro e negócios

Navios de carga ficam ociosos em Cingapura

Por KEITH BRADSHER

CINGAPURA - Quem navega hoje em dia numa embarcação pequena pela costa de Cingapura sente-se como um camundongo esgueirando-se entre um rebanho interminável de elefantes adormecidos.
Uma das maiores frotas de navios ociosos jamais vista está reunida ali, encalhada pela maré vazante do comércio global na entrada de um dos portos mais movimentados do mundo. Pode haver sinais tênues de recuperação em alguns pontos do planeta, mas poucos em Cingapura.
Centenas de navios de carga -alguns de até 270 mil toneladas métricas, muitos pesando mais que toda a histórica armada espanhola, com seus 130 navios- dão a impressão de flutuar sobre a água em lugar de estar dentro dela.
Tantos navios se congregaram em Cingapura -735, segundo o serviço de rastreamento ao vivo AIS Live, da Lloyd's Register-Fairplay Research- que as linhas de transporte marítimo estão ficando preocupadas com quase-colisões em uma das vias marítimas mais congestionadas do mundo, o estreito de Malaca, que separa Malásia e Cingapura da Indonésia.
A origem do problema está na queda aguda do comércio global, confirmada por estatísticas comerciais. A China anunciou que suas exportações caíram 22,6% entre abril do ano passado e abril deste ano, enquanto as Filipinas informavam que suas exportações em março foram inferiores em 30,9% às de um ano antes. Os EUA revelaram recentemente que suas exportações tiveram queda de 2,4% em março.
"Os dados comerciais relativos a março de 2009 reiteram os desafios atuais enfrentados pela economia global", declarou Ron Kirk, representante comercial dos EUA.
Mais preocupante, dizem muitos que atuam no setor de transporte marítimo, é que o nível atual da atividade comercial sugere que a retomada da economia ainda vai demorar a acontecer. "Muitos dos pedidos para a temporada do varejo estão sendo feitos agora e, em comparação com os anos recentes, são pequenos", disse Chris Woodward, vice-presidente de serviços de contêineres da empresa de logística Ryder System.
Os consumidores ocidentais, ainda se adaptando à perda de valor de suas ações e suas casas, mostram pouca tendência a voltar a gastar com importações não essenciais, segundo Joshua Felman, diretor-assistente da divisão Ásia e Pacífico do Fundo Monetário Internacional. "Para que o comércio possa se recuperar, é preciso que a demanda seja retomada", disse. "É muito difícil visualizar isso acontecendo no futuro próximo."
Segundo a corretora de transportes marítimos H. Clarkson $ Company, de Londres, a taxa diária de fretamento de um grande navio cargueiro próprio para transportar minério de ferro, por exemplo, caiu vertiginosamente, de quase US$ 300 mil em meados de 2008 para US$ 10 mil no início deste ano. Nas últimas semanas, a taxa subiu um pouco, para US$ 25 mil, e alguns navios de carga a granel deixaram Cingapura. Mas os proprietários dos barcos dizem que essa recuperação pode ter vida curta, porque reflete sobretudo uma corrida dos produtores chineses de aço para importar minério de ferro antes de uma possível alta dos preços.
O setor dos transportes em contêineres também deu alguns sinais tênues de retomada, mas ainda se encontra profundamente deprimido. E mais navios de carga estão aparecendo vazios em Cingapura. Oito empresas pequenas do setor foram à falência em 2008, e, segundo Dekker, é provável que pelo menos uma das grandes transportadoras faça o mesmo este ano.
Os navios vêm atracando em Cingapura porque ocorrem poucas tempestades na região, o porto possui ótimas equipes de manutenção, oferece combustível barato de sua refinaria própria e fica próximo de portos asiáticos que, eventualmente, podem ter cargas a serem transportadas.
A reunião de tantos navios de carga em um só lugar "é algo fora do comum", disse Christopher Palsson, consultor-sênior da Lloyd's Register-Fairplay Research. "É provável que não tenhamos testemunhado nada como isso desde o início dos anos 1980", durante a última grande queda no setor de transportes marítimos globais.
Navios estão ancorando também em outros portos espalhados pelo mundo. No último dia 11 havia 11 navios no estreito de Gibraltar e 300 em torno de Roterdã, na Holanda, segundo o serviço de rastreamento ao vivo AIS Live.
Mas Cingapura, com sua proximidade dos mercados asiáticos, vem atraindo muito mais embarcações. "É um sinal dos tempos o fato de a Ásia ser o lugar onde você queira atracar neste momento, na esperança de que a situação melhore", disse Martin Stopford, diretor da Clarkson Research Service, em Londres.


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