São Paulo, segunda-feira, 25 de maio de 2009

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Babilônia vira frágil atrativo no Iraque

Por STEVEN LEE MYERS

BABILÔNIA, Iraque - Após décadas de ditadura e descaso, o Iraque está comemorando sua renovada soberania sobre o sítio arqueológico da Babilônia -lutando pelo lugar, por seu passado e futuro e, é claro, por seu espólio.
O tempo há muito erodiu os tijolos secos ao sol que formavam a antiga Babilônia, a cidade de Hamurabi e Nabucodonosor, onde Daniel leu o texto na parede e Alexandre o Grande morreu. Arqueólogos coloniais carregaram seus tesouros para a Europa há um século. Saddam Hussein reconstruiu o lugar a sua própria imagem megalômana. Tropas americanas e polonesas o transformaram em acampamento militar, cavando trincheiras e enchendo as barricadas com terra salpicada de fragmentos de uma civilização da era bíblica.
Agora o governo provincial de Babil assumiu o controle da maior parte da Babilônia -ilegalmente, segundo o Conselho Estatal de Antiguidades e Patrimônio- e abriu um parque ao lado de um afluente do rio Eufrates, lugar que atrai enxurradas de visitantes.
Ele começou a cobrar uma taxa para visitar a casca saqueada do grandioso palácio que Hussein construiu na década de 1980, juntamente com o monte sobre o qual ele se ergue. Reformou uma série de edifícios da era Hussein e aluga seus quartos como suítes. Por US$ 175 a noite, os iraquianos podem passar a lua-de-mel em um quarto anunciado como um dos aposentos de Hussein (embora quase certamente fosse um quarto de hóspedes, na verdade).
"Nosso problema, em termos de arqueologia, é que realmente lidamos com pessoas ignorantes, seja na era de Saddam ou na atual", disse Qais Hussein Rashid, diretor do Conselho de Antiguidades, que tem autoridade legal sobre a Babilônia, mas aparentemente não muito poder.
Agora, com o apoio de algumas autoridades de Bagdá, o governo local reabriu as ruínas escavadas do antigo centro da Babilônia, fechado desde a invasão americana em 2003. Ele o fez apesar de advertências de arqueólogos de que a reabertura ameaça danificar ainda mais os restos de uma das primeiras grandes cidades do mundo, antes que o sítio seja adequadamente protegido.
A disputa sobre a antiga Babilônia ultrapassa os interesses conflitantes da preservação e do turismo. Ela reflete problemas que atrapalham o novo governo, inclusive uma divisão imprecisa entre a autoridade local e a federal e rivalidades políticas que consomem os ministérios oficiais. O conselho de Rashid, parte do Ministério da Cultura, está em choque com o recém-criado Ministério do Turismo e das Antiguidades, cujas prioridades ficam claras no nome.
"Nosso objetivo é que esses sítios sejam atrações turísticas -para transmitir uma imagem real e civilizada do Iraque e trazer o maior número possível de turistas", disse o diretor do Ministério do Turismo, Qahtan al Jibouri. "O Iraque precisa de mais uma fonte de renda, além do petróleo." Mohamed Taher, arqueólogo e ex-diretor das ruínas que se opõe à reabertura da Babilônia, disse que o que está sendo feito hoje é um pouco melhor do que se fez antes. "Eu gostaria de reconstruir a Babilônia novamente para pesquisa científica, não como Saddam", ele disse.
Um projeto de US$ 700 mil do Fundo de Monumentos Mundiais, financiado pelo Departamento de Estado dos EUA, deveria abordar a conservação e o turismo na Babilônia, mas ainda não começou a trabalhar no local. A segurança no Iraque melhorou muito, permitindo que os iraquianos mais uma vez pensem no passado como parte do futuro do país, mesmo que ainda não esteja pronto para o turismo, como quase todo mundo sabe. Uma visitante, Esma Ali, estudante universitária de Hilla, disse que cresceu à sombra da Babilônia, mas nunca a havia visitado, e o fez com um senso de respeito.
"Sinto que nossa história está retornando", ela disse.

Colaborou Maha al-Kateeb em Hilla, Iraque


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