São Paulo, segunda-feira, 25 de julho de 2011

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Biometria já é arma de guerra

Por THOM SHANKER

WASHINGTON - Quando o Taleban escavou um sistema de túneis sob a maior prisão do sul do Afeganistão, este ano, desencadeou uma operação intensiva para a recaptura de 475 foragidos.
Uma coisa facilitou a busca. Um mês antes da fuga da prisão, que aconteceu em abril, autoridades afegãs, usando tecnologia fornecida pelos Estados Unidos, scanearam os olhos, impressões digitais e imagens faciais de cada detento do enorme presídio de Sarposa. Dias depois da fuga, cerca de 35 detentos já tinham sido recapturados após suas identidades serem confirmadas pelos arquivos biométricos.
Chamando pouca atenção e suscitando poucas reclamações, as forças armadas americanas e as autoridades locais vêm conduzindo um esforço amplo para registrar dados de informação biométrica de um número grande de pessoas no Afeganistão e Iraque, especialmente de homens em idade própria para ser combatentes.
Informações sobre mais de 1,5 milhão de afegãos foram registradas em bancos de dados das forças dos EUA e da Otan (aliança militar ocidental). Isso equivale a um em cada 20 moradores do país, e um em cada seis homens em idade de combate -entre 15 e 64 anos. No Iraque foram registrados dados de cerca de 2,2 milhões de pessoas, ou um em cada 14 cidadãos (um em cada quatro homens em idade de combate).
Para obter os dados, soldados e policiais fazem o scaneamento digital dos olhos, fotografam o rosto e gravam as impressões digitais das pessoas. No Iraque e no Afeganistão, todos os detentos têm que submeter-se ao processo. O mesmo acontece com os iraquianos no país que se candidatam a um emprego público. Se quisesse não cruzar nunca com um sistema biométrico, um cidadão do Afeganistão ou Iraque teria que passar quase todo seu tempo em seu vilarejo natal ou nunca fazer uso de serviços públicos.
O sistema difere do processo tradicional de tirar as impressões digitais, porque com ele o governo pode vasculhar milhões de arquivos digitais em questão de segundos, mesmo em postos de verificação remotos, usando aparelhos pequenos, que cabem na mão.
Algumas reclamações foram feitas nos dois países, mas raramente por motivos que americanos reconheçam como sendo relativos às liberdades civis.
O Afeganistão, em especial, é um país onde não há tradição de uso de documentos. Alguns afegãos temem que, no futuro, o crescente banco de dados biométricos possa ser utilizado como arma de retaliação étnica, tribal ou política -um censo dos adversários de qualquer grupo em particular.
No passado, a captura instantânea de imagens da íris, como ferramenta de controle da população, era monopólio dos filmes de ficção científica.
Hoje, porém, uma nova geração de sistemas biométricos que cabem na palma da mão se difundiu entre as forças americanas.
"Você pode apresentar um documento de identidade falsificado", disse o major Robert Haemmerle, da força-tarefa 435 de interagências conjuntas. "Pode raspar a barba. Mas não pode modificar seus dados biométricos."
O general David Petraeus, que em 18 de julho entregou o comando da guerra no Afeganistão, elogia a tecnologia, não apenas por distinguir os insurgentes do resto da população mas por identificar as células de militantes que constroem e plantam bombas à beira de estradas, as maiores causas de mortes de tropas americanas no Iraque e Afeganistão.
Depois de uma explosão é possível obter impressões digitais e outros dados forenses, que então podem ser comparados aos arquivos biométricos.
"Esses dados são virtualmente irrefutáveis e geralmente são muito úteis para ajudar a identificar quem foi responsável por um artefato específico em um ataque específico, possibilitando a busca subsequente pelo culpado", disse o general Petraeus.


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