São Paulo, segunda-feira, 25 de julho de 2011

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Protestos pós-soviéticos viram performances

Manifestante fritou ovos em memorial de guerra em Kiev

Por ELLEN BARRY

MINSK, Belarus - No horário marcado para o protesto antigoverno de 13 de julho na capital de Belarus, dezenas de policiais estavam à espera na praça Yakub Kolas. Sua missão era impedir o protesto de acontecer.
Mas era difícil para os policiais saberem quem, na multidão de skatistas, jovens profissionais urbanos e avós de aparência impassível, estava participando da manifestação.
Os bancos do parque foram ocupados, e depois o meio-fio das calçadas, mas -seguindo instruções postadas em um site na internet- os ativistas não estavam fazendo nada, concretamente.
O sexto dia dos "protestos de palmas" semanais tinha eliminado o bater palmas. Em lugar disso, às 20h, todos os telefones dos ativistas tocaram campainhas ou até música.
O protesto se resumiu a isso.
Policiais com câmeras de vídeo filmaram cuidadosamente o rosto de cada pessoa presente no parque e empurraram para dentro de um ônibus alguns manifestantes.
A política de rua perdeu relevância em muitos países ex-soviéticos, na medida em que a oposição foi perdendo força. Mas formas inovadoras de protesto vêm surgindo aqui e ali.
Nenhuma delas tem conseguido mobilizar grande número de pessoas ou representar qualquer ameaça real às elites governantes. Mas os protestos atraem jovens para ações de formato livre, com frequência organizados por meio de mídias sociais, que são uma alternativa aos piquetes e palavras de ordem empregados pelas pessoas mais velhas.
A Rússia teve os chamados "baldes azuis", ativistas que colocam baldes plásticos de brinquedo sobre seus carros (ou suas cabeças) para protestar contra os privilégios dados no trânsito a funcionários governamentais, cujos carros são equipados com luzes azuis que piscam. No Azerbaijão, mobilizações relâmpago promoveram até lutas de espadas.
O ambiente político mais permissivo da Ucrânia deu lugar ao Femen, um grupo de mulheres jovens que desnudam seus seios em público para chamar a atenção a questões nada "sexy", como a reforma das aposentadorias.
Em abril uma mulher foi presa por ir a um memorial da Segunda Guerra Mundial em Kiev e fritar ovos sobre a chama eterna.
Cientistas sociais descrevem essas iniciativas como "ações de dilema", porque obrigam as autoridades a optar entre duas alternativas igualmente indesejáveis: não fazer nada e deixar que as atividades continuem, correndo o risco de que cresçam e se convertam em algo importante, ou impor castigos duros a pessoas que empreendem atividades aparentemente benignas.
Belarus optou por uma reação de linha dura. Tatyana Revyako, do grupo de defesa dos direitos humanos Vyasna, disse que 1.830 pessoas foram detidas pela polícia desde junho, quando começaram os protestos das palmas.
Um porta-voz do Ministério do Interior de Belarus, Konstantin Shalkevich, disse que, do ponto de vista da polícia, as táticas dos manifestantes não vêm ao caso.
"Quer seja bater palmas, tocar telefones ou qualquer outra ação, é tudo a mesma coisa", disse Shalkevich. "Temos o poder e os meios de garantir a ordem em Minsk e vamos garantir a ordem."
As prisões tiveram um efeito assustador. "Todo o mundo está com medo", disse um homem de 27 anos que de vez em quando cobria o rosto com um lenço xadrez. "Precisamos de treinamento para não sentir medo."
Belarus está passando por uma crise financeira, devida em parte à política em estilo soviético do presidente Aleksandr Lukashenko. No poder desde 1994, Lukashenko vem procurando garantir sua popularidade, elevando salários e oferecendo crédito com juros baixos. Isso levou à desvalorização aguda do rublo bielorrusso. As pessoas começaram a armazenar alimentos e a fazer filas para converter seus bens em divisas.
No verão, quando muitos vão para o interior, os protestos não tiveram grande apoio.
Para o líder oposicionista Anatoly Lebedko, isso se deve ao fato de os jovens organizadores não proporem soluções para os problemas sociais crescentes.
"Esses jovens querem mais liberdade, mas isso não vai convencer as pessoas das fábricas de tratores", disse Lebedko. "Precisamos propor respostas à pergunta: 'O que fazer?'."


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