São Paulo, segunda-feira, 25 de julho de 2011

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ENSAIO
STEVEN M. DAVIDOFF

Perigos do mercado emergente

Ações de firmas da China e da Rússia têm riscos especiais

Não é ruim ser conhecido como o Google da Rússia: as ações da Yandex, uma empresa dona de um buscador de internet, tiveram alta de 55% quando estrearam no Nasdaq em maio.
A alta dessas ações ilustra a sede dos investidores por investimentos em mercados emergentes e ofertas públicas iniciais (IPOs) de firmas que atuam na internet.
Mas a Yandex também revela que os investidores se dispõem a ignorar os riscos especiais associados a empresas estrangeiras na internet.
A Yandex levantou US$1,3 bilhão numa IPO que a avaliou em cerca de US$11 bilhões. É uma cifra poderosa para uma empresa que opera apenas na Rússia e tem perspectivas limitadas fora desse país.
Mesmo assim, a avaliação da Yandex foi conservadora em comparação com outra firma de tecnologia estrangeira, a Renren. Descrita como o Facebook da China, a Renren estreou em maio na bolsa de Nova York, levantando mais ou menos US$855 milhões, apesar de ter apenas entre 20 milhões e 30 milhões de usuários mensais.
O perigo não está na possibilidade de estas companhias fazerem parte de uma bolha. O fato é que elas encerram riscos que são próprios de empresas estrangeiras.
Tome-se o caso da Renren. Tecnicamente falando, ela nem sequer é uma firma chinesa. Em lugar disso, foi incorporada nas Ilhas Cayman, porque o governo chinês limita o grau em que estrangeiros podem ser donos de empresas chinesas.
Os compradores de ações da Renren talvez se espantem ao saber que ela nem sequer é dona de sua principal subsidiária, a operadora de seu site de relacionamento social.
Em lugar disso, a mulher do fundador e executivo-chefe da Renren é dona de 99% da subsidiária, e a empresa tem uma relação apenas contratual com seu negócio principal.
Mas isso não é o mesmo que propriedade plena. As leis não são fortemente implementadas na China, e exigir o cumprimento de direitos contratuais em tribunais pode ser bastante difícil. Os reguladores chineses poderiam intervir e desfazer esse relacionamento contratual.
E o que aconteceria se o executivo-chefe da Renren e sua mulher se divorciassem? Com US$5 bilhões em jogo, é possível que as pessoas não se comportem da maneira mais ética possível.
Há também questões de fraude contábil. O presidente do comitê de auditoria da Renren, Derek Palaschuk, demitiu-se nas semanas anteriores ao IPO da Renren em função de acusações de fraude em outra companhia chinesa cujas ações são listadas na Bolsa de Nova York, a Longtop Financial Technologies, da qual ele era o executivo financeiro chefe.
As fraudes contábeis são um problema sério em empresas chinesas. Se acionistas americanos são espoliados, as medidas que podem tomar são limitadas, porque qualquer ação judicial teria que ser movida na China.
Esses problemas não se limitam à China. A Yandex é incorporada na Holanda. Isso provavelmente reflete a necessidade de regras claras para reger a empresa, algo que falta na China e na Rússia. Na Rússia, por sinal, o temor principal não é de fraudes, mas de ingerência governamental.
No prospecto de sua IPO, a Yandex cita o risco envolvido na próxima eleição.
Talvez essas firmas de tecnologia estejam buscando fazer suas IPOs nos EUA por causa dos mercados de capital mais fortes. Uma explicação mais desagradável é que temos investidores que acompanham a multidão e uma mídia que alimenta o investimento "por entusiasmo".
Pode ser que haja algo no mercado americano que propicia a formação de bolhas. Empresas estrangeiras na internet estão se alimentando desse fenômeno.


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