São Paulo, segunda-feira, 25 de julho de 2011

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Promessa do xisto muda jogo da energia mundial

Por CLIFFORD KRAUSS

A leste do sopé dos Andes, na Argentina, um campo de petróleo chamado Vaca Muerta (vaca morta) ganhou vida. Em maio, a companhia de petróleo argentina YPF anunciou que havia encontrado 150 milhões de barris de petróleo no local.
A presidente Cristina Kirchner disse que a descoberta poderá dar um novo impulso à economia estagnada do país.
"A importância dessa descoberta vai muito além do volume", disse Sebastián Eskenazi, executivo chefe da YPF. "O importante é que é algo novo: uma nova energia, um novo futuro, novas expectativas".
Embora haja obstáculos importantes, geólogos dizem que Vaca Muerta é o sinal de uma possível expansão dos suprimentos globais de petróleo nas próximas duas décadas -quando a indústria usará técnicas avançadas para extrair petróleo do xisto e de outras rochas compactas.
A exploração dos campos de xisto já começou na Austrália, no Canadá, na Polônia e na França. Companhias de petróleo indianas e chinesas estão investindo em projetos-pilotos que, se tiverem sucesso, poderão tornar seus países produtores importantes de petróleo, possivelmente reformulando a geopolítica energética e contendo futuros aumentos de preços no mercado mundial.
A Ucrânia e a Rússia também teriam campos de xisto consideráveis com petróleo e gás, assim como muitos países do Norte da África e do Oriente Médio.
"O potencial é enorme, da ordem de centenas de bilhões de barris de reservas recuperáveis", disse Michael C. Lynch, presidente da Strategic Energy and Economic Research.
A busca por petróleo em rochas compactas começou nos Estados Unidos cerca de três anos atrás. A produção de petróleo de xisto doméstica cresceu para mais de 500 mil barris por dia desde 2009 e poderá alcançar 3 milhões de barris diários até 2020.
As técnicas usadas para extraí-lo incluem fraturamento hidráulico, em que fluidos de alta pressão são usados para quebrar a rocha de xisto para liberar o petróleo, e perfuração horizontal -que sonda finas camadas de xisto cheias de petróleo comprimido entre camadas de outras rochas.
Especialistas advertem que os geólogos apenas começaram a estudar os campos de xisto, e assim só podem adivinhar seu potencial. Ainda é preciso avaliar quanto petróleo ou gás pode ser recuperado do xisto.
O fraturamento hidráulico atraiu uma oposição significativa nos EUA e na França devido a preocupações de que os fluidos usados possam poluir o lençol freático. O processo exige grande quantidade de água, um problema para regiões secas.
Mas os analistas estão otimistas. "Poderá causar uma mudança no jogo", disse Fadel Gheit, diretor-gerente e analista de petróleo na Oppenheimer & Company. "Vamos ver uma distribuição muito mais ampla das reservas de petróleo. Países como Canadá e Austrália têm potencial para se tornarem a nova Arábia Saudita".
A Argentina tem grandes esperanças. Os 150 milhões de barris de petróleo de xisto recuperável encontrados em Vaca Muerta representam um aumento de 8% nas reservas argentinas, e foi a maior descoberta de petróleo no país desde o final dos anos 1980. A YPF explorou apenas 250 quilômetros quadrados dos 13 mil do depósito de xisto.
E a companhia de petróleo francesa Total e as americanas Apache, Exxon Mobil e EOG Resources estão investindo alto no xisto argentino.
Outro potencial vencedor é a China, que tem pelo menos dois projetos explorando petróleo e gás no xisto. A BP e a Royal Dutch Shell também estão trabalhando com os chineses.
"A China provavelmente poderá crescer depressa por causa da propriedade única dos recursos", disse Bob Fryklund, o vice-presidente de exploração global e análise de produção na consultoria energética IHS Cera.
Fryklund disse que ainda é cedo para saber o tamanho que poderá ter a produção global de petróleo de xisto. Mas disse que as companhias de petróleo já investiram bilhões de dólares em exploração.


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