São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2010

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Romena salva meninas do tráfico sexual

Por SUZANNE DALEY
CONSTANTA, Romênia - A menina de 15 anos havia sido "treinada" como prostituta numa boate de Calarasi, no sul da Romênia. Agora, estava prestes a ser vendida por US$ 2.800 a um bordel turco.
Iana Matei, principal ativista romena na defesa de vítimas do tráfico humano, havia feito contato com a garota e se oferecido para esperá-la em frente à boate, no seu carro, caso ela pudesse sair para fumar um cigarro.
Mas a menina já havia tentado fugir anteriormente e fora severamente agredida. Matei não sabia se ela teria coragem de tentar outra vez.
Aí ela apareceu correndo e se enfiou no banco traseiro do carro. Matei disparou por ruas desconhecidas, temendo ser perseguida, e se perdeu. "Fiquei gritando para que ela me dissesse aonde ir", contou Matei.
"E ela não estava sendo muito prestativa, e eu não estava sendo muito legal com ela. E finalmente parei o carro, olhei para trás, e o rosto que eu vi..."
"Percebi que eu é que estava sendo tonta", prosseguiu. "Ela estava tão assustada que não havia meio de que pudesse me ajudar."
Há mais de dez anos, Matei, formada em psicologia, tem tirado jovens das mãos de traficantes. Até poucos anos atrás, seu abrigo era o único na Romênia para vítimas do tráfico sexual. Com frequência, disse, os romenos veem as garotas como meras prostitutas.
"Elas são vítimas", afirmou recentemente. "São jovens demais para serem outra coisa."
Quase sempre oriundas de famílias pobres e abusivas, as meninas, às vezes, são vendidas por seus próprios pais. Algumas são atraídas para o exterior com promessas de emprego ou casamento. Mas, uma vez fora, são vendidas a quadrilhas e trancafiadas em bordéis, ou forçadas a trabalhar nas ruas.
Matei não esconde o seu descontentamento com sistemas judiciais em todo o mundo que deixam de coibir seriamente o tráfico humano.
"Quando esses caras são apanhados, o que eles pegam? Seis anos? Talvez. Eles destroem 300 vidas e pegam seis anos. Se você trafica drogas, pega 20 anos. Algo não está certo."
Numa recente tarde de sábado, Matei estava em Constança, participando de um filme sobre o tráfico sexual que está sendo feito pelo diretor romeno Cristian Mungiu. Matei, ocasionalmente, escapava para cuidar das gêmeas de 3 anos que ela adotou recentemente. As meninas nasceram de uma vítima do tráfico, que as abandonou. "Elas são a minha alegria", afirmou.
Aos 52 anos, fumante inveterada, Matei parece ter a energia -e a irreverência- de uma adolescente. "Eles oferecem dez dias de 'reintegração'", disse ela sobre um dos mais recentes esforços do governo romeno para abrigar vítimas do tráfico. "Isso é muito legal, você não acha? Dez dias."
A maioria das jovens que chega ao abrigo dela, onde podem ficar até um ano, está em péssimo estado, contou Matei. "Elas não se sentem mais normais", afirmou.
Os traficantes, às vezes, aparecem no abrigo, querendo pegar as meninas de volta. Uma vez, relatou, ela os enfrentou no lado de fora, usando seu carro para bloquear o veículo deles.
"Lá estava eu, baixinha, loura, velha e berrando que nem uma louca. Eu tive muita sorte de a segurança ter aparecido em um minuto."
Matei começou a vida achando que seria designer gráfica. Casou-se, foi mãe e então se divorciou.
Em 1990, quando a Romênia estava emergindo do comunismo, ela participou de diversas manifestações nas ruas. Mas um dia a polícia apareceu, e ela deixou a bolsa cair. Quando ligou para casa na manhã seguinte, a polícia já havia estado lá.
Decidiu então fugir do país e, depois, conseguiu que seu filho a encontrasse na Austrália. Lá, se formou em psicologia e trabalhou com crianças de rua.
Mas em 1998 decidiu voltar, e começou a trabalhar com crianças de rua no seu país. Logo, a polícia a procurou, pedindo um favor. Será que poderia levar para o médico três jovens prostitutas que tinham acabado de ser detidas?
Uma das meninas estava grávida. As três passaram duas semanas hospitalizadas. Mas depois, disse Matei, os serviços de bem-estar dos menores não quis mais saber delas.
"Afinal, arrumei um apartamento para elas, e mais meninas foram chegando. Foi assim que tudo começou."


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