São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Meio ambiente despenca entre as preocupações do público


Aquecimento global hoje é menos preocupante que emprego e moradia


Por ANDREW C. REVKIN

Uma nova pesquisa sugere que os americanos, aflitos com a economia, estão menos preocupados com o aquecimento global do que há um ano, mas continuam atentos à necessidade de resolver os problemas energéticos dos Estados Unidos.
As conclusões de certa forma contradizem as prioridades do presidente Barack Obama, que no discurso de posse, na terça-feira passada, prometeu "reverter o espectro de um planeta em aquecimento".
Em pesquisa divulgada na quinta-feira pelo Pew Research Center, o aquecimento global apareceu em último lugar na lista das 20 maiores preocupações dos eleitores. Veio atrás de questões como o declínio moral dos EUA e a influência dos lobistas. Só 30% dos eleitores consideraram o aquecimento global como "alta prioridade" -eram 35% em 2008. O item "proteção do meio ambiente", citado como prioridade máxima por 56% em 2008, caiu para 41%.
Já os problemas energéticos apareceram em sexto lugar na lista -vistos como alta prioridade por 60% dos eleitores, ficam logo atrás de educação e seguridade social.
O menor interesse pelas questões ambientais não chega a ser surpreendente num momento em que os americanos enfrentam ameaças iminentes aos seus empregos e lares. "Fortalecer a economia" foi citada como a maior prioridade de todas na pesquisa Pew.
Andrew Kohut, presidente do Pew Research Center, afirmou que um padrão similar foi visto na pesquisa realizada pelo instituto após os atentados do 11 de Setembro, quando todas as questões secundárias sumiram da cabeça do eleitorado. "A preocupação com o terrorismo ofuscou todo o resto."
Um 2008 relativamente fresco, com um inverno rigoroso na América do Norte e na Europa, também contribuiu para a tendência, inspirando alguns comentaristas e um pequeno grupo de cientistas a fazerem comentários céticos sobre o "resfriamento global".
O minguante interesse da opinião pública pelo aquecimento global representa um desafio para Obama, que enfatizou a mudança climática durante toda a sua campanha e prometeu defender um limite nacional para as emissões de gases do efeito estufa, em especial o dióxido de carbono, resultante principalmente da queima de petróleo e carvão mineral.
Tal limite, mesmo que inclua vários mecanismos destinados a atenuar o custo, iria por definição elevar o preço da energia oriunda desses combustíveis fósseis, que ainda são o esteio da economia americana e global.
Adversários políticos de Obama já perceberam o esfriamento da preocupação popular com o clima. Marc Morano, diretor de comunicações da bancada republicana na Comissão de Meio Ambiente e Obras Públicas do Senado, tem enviado e-mails de alerta, às vezes vários por dia, destacando o frio deste inverno, além de pesquisas sugerindo uma mudança da opinião pública.
Mas especialistas em política climática e energética dizem que, diante da preocupação dos americanos a respeito de como encher o tanque e iluminar a casa, Obama ainda pode embalar a política climática como parte de uma iniciativa abrangente na busca de uma matriz energética mais limpa e segura.
"Obama pode efetivamente vincular conservação, eficiência e energia renovável a empregos, crescimento sustentável e segurança nacional", disse o sociólogo Riley Dunlap, da Universidade Estadual de Oklahoma, que estuda o discurso dos políticos e da opinião pública sobre clima.
"Isso será mais fácil com eficiência energética e independência do que com mudança climática", disse Dunlap. "[Mas] acho que ele pode 'legitimar' a mudança climática e precisa agir a respeito dela em um grau considerável."
O climatologista Richard Somerville, da Universidade da Califórnia em San Diego, disse haver abundantes provas dos benefícios políticos e ambientais de um esforço prolongado pela eficiência energética, o que inclui a conscientização da população por cientistas e políticos.
"A França, um país de 60 milhões de pessoas, passou de quase 0 a 80% de eletricidade nuclear em cerca de três décadas", disse Somerville. A mudança, acrescentou, "foi feita suave e eficazmente, e a educação do público foi uma grande parte disso".
David Goldston, ex-chefe-de-gabinete da Comissão de Ciências da Câmara, lembrou que nunca um presidente americano havia citado o aquecimento global como uma questão central, "então não sabemos o que irá acontecer quando isso ocorrer". "Veremos", prosseguiu Goldston, "mas acho errado pressupor demais a respeito do futuro, com base no nosso atual torpor prolongado".


Texto Anterior: O salvador ou o demônio
Próximo Texto: Tendências Mundiais: Estoura a bolha, e mercado de chá colapsa na China
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.