São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

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Dinheiros e Negócios

Hollywood faz aposta em três dimensões

Por BROOKS BARNES

LOS ANGELES - O retorno iminente do cinema tridimensional ameaça se tornar o mais novo fiasco de Hollywood.
Algumas das forças mais poderosas do setor acham que as massas em breve exigirão que todos os filmes sejam no recém-lançado sistema 3D digital. Jeffrey Katzenberg, presidente do estúdio DreamWorks, por exemplo, já percorreu o planeta para alardear essa tecnologia como um momento transformador do cinema, equivalente ao advento do som.
Ele tem muitos seguidores, ao menos em Hollywood. Só a Disney tem 15 filmes 3D em desenvolvimento. A Twentieth Century Fox está apostando estimados US$ 200 milhões em "Avatar", uma aventura espacial tridimensional com lançamento previsto para dezembro. Será o primeiro filme de ficção de James Cameron desde "Titanic" (1997). Ao todo, o setor cinematográfico dos EUA tem mais de 30 produções em 3D a caminho.
Mas analistas começam a alertar que tantos produtos podem ficar sem escoamento. Os estúdios, seduzidos pela dupla promessa do 3D -lucros maiores e evolução artística-, adotaram agressivamente essa tecnologia sem esperar que as salas aderissem. E, sem as custosas modernizações dos equipamentos nas salas multiplex, os grandes lançamentos de filmes em 3D se tornam inviáveis.
"Começa a parecer que haverá muitos produtores frustrados, incapazes de realizar o lado positivo desses investimentos em 3D", disse o analista de mídia Harold Vogel. Filmar em 3D acrescenta cerca de US$ 15 milhões aos custos de produção, segundo ele, mas os lucros podem crescer porque o ingresso é mais caro.
Das cerca de 40 mil telas de cinema da América do Norte, só umas 1.300 estão preparadas para projeções digitais em 3D, além das 250 salas Imax com telas gigantes. Nos demais continentes, onde os filmes podem gerar até 70% da sua arrecadação em bilheterias, poucas centenas de cinemas estão preparados para a nova tecnologia. A adequação total de cada sala custa cerca de US$ 100 mil.
Para a maioria dos seus lançamentos, os estúdios exigem cerca de 3.000 salas na América do Norte. Filmes de grande orçamento, como "Avatar" ou "Monster vs. Aliens", incursão da DreamWorks Animation no 3D, costumam ser lançados em mais de 4.000 salas.
A reforma das salas emperra especialmente devido à polêmica sobre quem pagará a conta. Os estúdios esperavam que os cinemas tomassem a iniciativa, porque os equipamentos digitais lhes permitiriam cobrar mais pelos ingressos -nos EUA, a entrada para a nova safra de filmes 3D sai por até US$ 25. Já os exibidores, afetados pelo aumento dos custos imobiliários pré-crise, queriam que os estúdios pagassem.
Redes de exibição e 4 dos 6 principais estúdios definiram em setembro um plano para reformar mais de 15 mil salas de cinema. Só que a proposta de financiamento surgiu justo no momento em que o mercado de crédito parou.
Mas estúdios e exibidores dizem que a modernização não está ameaçada. "Trata-se de um compromisso de longo prazo e de uma estratégia de longo prazo", disse recentemente Katzenberg.
Quem se lembra do 3D da década de 1950 o associa a filmes de baixo orçamento, óculos de papelão duro e movimentos de câmera bruscos e nauseantes. Mas os executivos do setor garantem que tudo mudou. Os projetores digitais exibem a imagem com absoluta precisão -eliminando as náuseas e dores de cabeça-, e óculos de plástico substituíram os de papelão.
E o melhor, segundo os cineastas, é que novos equipamentos permitem que os filmes sejam feitos em 3D desde o começo, criando uma experiência de maior imersão e realismo para o espectador, sem ficar na dependência de um mero truque visual.


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