São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

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Mundo editorial se rende à austeridade

Por MOTOKO RICH

Durante décadas, o mercado editorial de Nova York prometeu uma vida romântica de almoços luxuosos, festas cintilantes, conversas sofisticadas e viagens a lugares como o Caribe para apresentar livros a representantes comerciais. Se os salários não eram exatamente como em Wall Street, bem, eles vinham em um meio que misturava a alta cultura com a alta sociedade de Manhattan.
Mas essa vida glamourosa parece estar se esvaindo, num setor que adota medidas austeras devido à pior crise já vista em suas vendas. "Este negócio nunca se destinou a sustentar limusines", disse a agente literária Amanda Urban, que representa autores como Cormac McCarthy e Toni Morrison.
Editoras tradicionais, como HarperCollins, Houghton Mifflin Harcourt, Penguin Group, Random House e Simon & Schuster, já anunciaram congelamentos salariais e demissões, ou ambos. A Simon & Schuster cancelou sua festa anual de fim de ano, que em 2008 estava marcada para o sofisticado salão de banquetes Guastavino's, em Manhattan. Uma divisão da Random House realizou uma confraternização à base de pizza, cerveja e vinho, em vez de encomendar coquetéis custosos. Editores de gosto refinado estão sendo orientados a reduzir os gastos com refeições.
Vendas de livros se deterioraram desde outubro, com uma queda de 7% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo a Nielsen BookScan, que monitora cerca de 70% das vendas nos EUA. Essa queda gera muitos dos cortes imediatos, mas o setor editorial também está sendo convulsionado por tendências de mais longo prazo, inclusive a mudança para a leitura digital e a competição vinda de opções de entretenimento como os videogames e as redes de relacionamento social.
Por isso Urban disse que algumas das práticas mais ostentatórias não podem ser mantidas por um setor que cresce pouco, tem margens de lucro estreitas e não pode cobrar preços excessivos. "Os livros só podem suportar um determinado preço final", disse ela. "Não é que haja livros que podem ser Manolo Blahniks e livros que podem ser Cole Haan [marcas díspares de calçados]. Livros são livros. Um livro de James Patterson custa o mesmo que o livro de algum poeta."
Mas a crise obriga as editoras a reverem algumas das tradições mais antigas do setor. Um alvo fácil: as feiras internacionais em Londres e Frankfurt, nas quais editores e agentes se encontram -oficialmente, para fechar negócios, mas na prática para passarem a maior parte do tempo em festas e jantares.
Muitas editoras que antes gastavam centenas de milhares de dólares em voos, hotéis e coquetéis reduzirão os contingentes enviados às feiras de 2009. Para os autores, isso significa a perspectiva de adiantamentos menores e de menos títulos adquiridos.
Outros hábitos, como a custosa prática de permitir que os livreiros devolvam os livros encalhados, também estão sob escrutínio.
É claro que os veteranos do setor editorial já viram tudo isso. Michael Korda, ex-editor-chefe da Simon & Schuster, lembrou um período, na década de 1970, em que seus patrões proibiram os editores de frequentarem certos restaurantes. "Depois de um tempo, os negócios melhoraram", contou Korda, "e todo o mundo voltou a fazer o que fazia antes".
"Este negócio nunca se destinou a sustentar limusines"


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