São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

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Desvendando a trilha sonora de "Snoopy"

Por APRIL DEMBOSKY

SANTA ROSA, Califórnia - Em um quadrinho de "Snoopy" ["Peanuts" no original] de meados da década de 1950, Charlie Brown caminha pelo primeiro painel e encontra Schroeder sentado na frente de um gravador de tamanho adulto, com um ouvido colado ao alto-falante. "Shh", diz Schroeder, "estou escutando a Nona de Beethoven." Charlie Brown examina a roupa de Schroeder. "De sobretudo?", pergunta. Schroeder se aproxima ainda mais do alto-falante e responde: "O primeiro movimento foi tão lindo que me deu calafrios!"
No mundo de "Snoopy", é claro, Schroeder era um amante de música obcecado por Beethoven que perdia a paciência quando Lucy interrompia sua prática. Mas os musicólogos e curadores de arte perceberam que havia muito mais que piadas por trás das citações feitas por Charles Schulz à música de Beethoven.
"Se você não lê música e não sabe identificar a música nos desenhos, perde parte do significado", disse William Meredith, diretor do Centro Ira F. Brilliant para Estudos de Beethoven na Universidade Estadual de San José, na Califórnia, que analisou centenas de tiras de "Snoopy" com o tema de Beethoven.
Schulz escolhia cuidadosamente cada trecho de música que desenhava e transcrevia as notas da partitura. A música era uma trilha sonora que revelava o estado de espírito dos personagens, fazendo-os perguntar alguma coisa ou pontuar um diálogo.
"A música é um personagem dos quadrinhos, assim como as pessoas, porque a música dá o tom", disse Meredith. Para entender o que causava calafrios em Schroeder você precisa escutar a passagem musical, ele diz. "Quando você realmente escuta a sinfonia tudo parece completamente diferente."
Essa ligação é o tema de "O Beethoven de Schulz: a Musa de Schroeder", uma exposição no Museu e Centro de Pesquisa Charles M. Schulz, que foi organizada com o Centro Beethoven (vai até hoje e será reaberta em 1? de maio no centro em San José).
Meredith passou mais de um ano identificando composições, reunindo gravações e reinterpretando os quadrinhos; Jane O'Cain, curadora do museu, pesquisou o processo artístico de Schulz e seus hábitos musicais. Schulz garimpou a vida de Beethoven em busca de material. Ele tinha diversos livros nos quais sublinhou detalhes da vida amorosa de Beethoven, suas roupas e até sua receita favorita (macarrão com queijo). Em consequência, os fãs de Schulz gostam de indicar que os quadrinhos são tão educativos quanto divertidos.
"O que você achava ser uma piada é uma história verdadeira sobre a vida de Beethoven", disse Karen Johnson, diretora do Museu Schulz.


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