São Paulo, segunda-feira, 26 de abril de 2010

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Universidades têm risco de segurança na pesquisa nuclear

O Ocidente usa o combustível que teme que o Irã almeje

Por WILLIAM J. BROAD
No Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), um reator nuclear emite um brilho azul fantasmagórico 24 horas por dia, sete dias por semana. Seu combustível é 93% urânio 235 -o urânio de maior pureza, necessário para energizar uma bomba atômica, exatamente o que o Ocidente teme que o Irã queira produzir.
A instalação no MIT é apenas 1 dos cerca de 130 reatores de pesquisa civil em todo o mundo que usam urânio altamente enriquecido. Especialistas dizem que para movimentá-los são necessárias toneladas de combustível em grau de bomba, o suficiente para construir centenas de ogivas. E a maioria deles é pouco protegida.
Esse é apenas um dos desafios que Barack Obama e dezenas de líderes mundiais discutiram em uma recente cúpula de segurança nuclear em Washington. A agenda visava aumentar as salvaguardas das armas nucleares mundiais, assim como uma série de materiais e locais sensíveis, como o reator do MIT.
"Precisamos garantir que os terroristas nunca consigam uma arma nuclear", disse Obama em Praga, um ano atrás. "Por isso, hoje anuncio uma nova iniciativa internacional para garantir a segurança de todo o material nuclear vulnerável ao redor do mundo dentro de quatro anos."
Os reatores de pesquisas são vistos por Obama e assessores como especialmente vulneráveis a terroristas. Geralmente, os locais civis empregam poucas das proteções militares padrão, como arame farpado, postos de controle, guardas armados e armas antiaéreas. Em vez disso, tendem a incentivar a fácil utilização pela universidade e a indústria.
Os reatores de pesquisa que funcionam com urânio enriquecido são, em parte, um legado das ambições de Washington e Moscou durante a Guerra Fria. Eles foram oferecidos pelas duas potências como prêmios para atrair países clientes. Hoje, os países tentam diminuir a ameaça de roubo por terroristas reforçando a segurança dos locais, fechando reatores obsoletos e substituindo o combustível em grau de bomba por variedades pouco enriquecidas.
No início deste ano, por exemplo, especialistas da Administração Nacional de Segurança Nuclear em Washington conduziram uma operação delicada no Chile para remover combustível altamente enriquecido de dois reatores de pesquisa. Mas um terremoto ocorreu durante a tarefa, obrigando as equipes nucleares a improvisar na remoção do combustível encaixotado.
Reforços de segurança nos reatores incluem acrescentar cofres, detectores de movimento, câmeras de segurança, portas de aço, fechaduras magnéticas e alarmes centrais. O processo de mudar para um combustível de reator com pouca ou nenhuma utilidade para a bomba é difícil, caro e demorado. Mas, afinal, virtualmente elimina o risco do desvio combustível para fabricar bombas.
A maioria dos reatores de pesquisa do mundo que usam urânio em grau de bomba se situa na Rússia, e, segundo especialistas, Moscou resistiu à pressão para transformá-los em combustível de baixo teor. Perto de São Petersburgo, um novo reator de pesquisa está sendo construído e deverá funcionar com urânio altamente enriquecido, para decepção dos EUA. "Ninguém fala sobre isso", disse Alexander Glaser, especialista nuclear da Universidade Princeton. "É um reator com muito urânio."


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