São Paulo, segunda-feira, 26 de julho de 2010

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Salário chinês sobe, e empregos migram

Por VIKAS BAJAJ

GAZIPUR, Bangladesh - A rodovia de oito faixas que vem de Dacca, capital de Bangladesh, se estreita ao se aproximar de Gazipur, cidade 48 km ao norte, jogando os carros em um acostamento lamacento e esburacado, margeado por manguezais e lojas.
Mas esse não é um simples encrave rural. É o tipo de lugar para onde as fábricas estrangeiras cada vez mais se voltam se, por causa das reivindicações salariais dos operários chineses, elas têm de buscar mão de obra barata em outros países.
Em fábricas escondidas atrás de portões de aço e muros altos, dezenas de milhares de operários, a maioria mulheres, já passam seus dias costurando roupas para marcas e redes de varejo ocidentais, como Walmart, H e Zara.
Uma empresa bengalesa, o Grupo DBL, emprega 9.000 pessoas e está concluindo um novo edifício de dez andares, ocupados por fileiras de máquinas de costura.
"Nossa família precisava de dinheiro, então viemos para cá", disse Maasuda Akthar, 21, costureira da DBL.
O aumento dos custos trabalhistas tem feito a China, tradicional chão de fábrica do mundo, perder vagas para nações como Bangladesh, Vietnã e Camboja.
A Li & Fung, empresa de Hong Kong que atende marcas como Walmart e Liz Claiborne, informou que sua produção em Bangladesh saltou 20% no ano passado, enquanto na China, seu maior fornecedor, caiu 5%. "Bangladesh está ficando muito competitivo", disse William Fung, executivo da Li & Fung, a analistas em março.
A fuga de empregos começou antes mesmo da recente inquietação trabalhista na China, que levou a aumentos salariais em muitas fábricas -e antes também de mudanças cambiais que podem elevar o custo das exportações chinesas. Economistas preveem uma aceleração na migração dos empregos chineses mal remunerados.
Bangladesh tem os menores salários do mundo no setor de vestuário, segundo militantes dos direitos trabalhistas. Akthar, relativamente bem paga para os padrões locais, ganha cerca de US$ 64 por mês. Nas Províncias industriais do litoral chinês, o salário mínimo varia de US$ 117 a US$ 147.
Mas a China tem uma vasta população de trabalhadores migrantes, estradas modernas e redes elétricas nas Províncias industriais. A maior parte de Bangladesh, por outro lado, sofre apagões de seis a sete horas por dia, por falta de investimentos em energia -deficiência que tão cedo não poderá ser resolvida.
A taxa de alfabetização no país é de apenas 55%, enquanto na China supera os 92%. Por isso, a produtividade nas confecções do país equivale a apenas 25% da obtida por trabalhadores chineses, segundo um relatório do Centro para o Diálogo Político, entidade de pesquisas com sede em Dacca.
Apesar das carências, Bangladesh quase duplicou sua exportação de roupas entre 2004 e 2009. E o setor agora emprega cerca de 3 milhões de pessoas. De junho a novembro de 2009, a indústria de roupas representou mais de 80% das exportações totais do país.
Entre os países em desenvolvimento, Bangladesh é o terceiro maior exportador de roupas, atrás da China continental e da Turquia, segundo a Organização Mundial do Comércio.
E, como na China, os bengaleses começaram a reivindicar melhores salários. Os trabalhadores das confecções pleiteiam aumento de 200% no salário mínimo, para chegar a 5.000 tecas (cerca de R$ 127) -valor hoje só acessível a operários com anos de experiência.
Empresários argumentam que um aumento expressivo nos salários tiraria sua competitividade internacional. "Se for a 5.000 tecas, eu fecharei todas as minhas fábricas", disse Anisul Huq, dono de uma fábrica que tem H e Walmart entre seus clientes. "Mesmo que seja de 3.000 tecas, muitas fábricas vão fechar em três ou quatro meses."


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