São Paulo, segunda-feira, 26 de julho de 2010

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Apesar dos riscos, Panasonic tenta agradar distintos nichos


Empresa mantém seus produtos, mesmo sob críticas

Por HIROKO TABUCHI

TÓQUIO - A Panasonic fabrica o maior televisor 3D do mundo, uma tela de plasma de alta definição com 3,86 metros que custa centenas de milhares de dólares e é grande o suficiente para projetar pessoas em tamanho real.
A empresa também vende refrigeradores simples para países mais pobres, que têm espaço extra para água bombeada e custam US$ 170.
Entre esses extremos a Panasonic tem um vasto catálogo de produtos eletrônicos de consumo em várias faixas de preços, incluindo quatro tipos de cortadores de pêlos do nariz e um equipamento para o ouvido. Mas até quando a companhia poderá continuar tentando ser tudo para os consumidores?
Os analistas se queixam de que ela sofre de "distúrbio de deficit de atenção", mal que, segundo eles, prejudica muitas gigantes eletrônicas japonesas. Esse problema, dizem os críticos, distraiu a administração e a fez perder mercados para atores mais concentrados e ágeis como a americana Apple e a Samsung, da Coreia do Sul.
Após anos gloriosos de construção de império pelas indústrias japonesas na década de 1980, conforme os mercados começaram a se entupir de produtos baratos e a concorrência se tornou mais intensa, ficou claro que os japoneses precisavam se concentrar em menos produtos, em vez de tentar competir com centenas deles, não relacionados.
No entanto, apesar de constantes promessas das empresas de "sentaku to shuchu", ou "escolher e focar" -um refrão empresarial muito ouvido no Japão nos últimos anos-, muitos fabricantes japoneses tiveram dificuldades para enxugar suas operações e conter a sobreposição de universos de produtos.
Mas a Panasonic, desprezando as críticas de que cresceu demais, parece decidida a continuar e expansão de seus produtos -apesar de ter perdido 103 bilhões de ienes (R$ 2,1 bilhões) em receitas de 7,4 trilhões de ienes (cerca de R$ 150 bilhões) no ano fiscal que terminou em março.
O banco de investimentos Macquarie prevê que o lucro líquido da Panasonic atingirá 91 bilhões de ienes no ano fiscal que terminará em março de 2011, enquanto a economia global se recupera.
"É verdade que nossa empresa ocupa uma ampla área", disse seu presidente, Fumio Ohtsubo, em entrevista recente em Tóquio. "Mas não é tão difícil quanto se pode pensar."
Na verdade, o novo impulso da Panasonic de vender seus aparelhos em países mais pobres como Índia e Indonésia produziu sucessos precoces. O mesmo ocorreu com sua incursão na tecnologia 3D, considerada a próxima revolução no entretenimento doméstico nos países ricos como Estados Unidos e Japão.
"Provavelmente vendemos dezenas de milhares de produtos; nunca contamos", disse Akira Kadota, porta-voz da Panasonic. "Talvez até um milhão?"
A disseminação não é exclusiva da Panasonic. Até recentemente, Sharp, Fujitsu, Toshiba, NEC, Casio, Hitachi, Kyocera e Sony faziam telefones celulares, enquanto em alguns casos também construíam reatores nucleares e computadores servidores para redes avançadas.
"A grande maioria das companhias tecnológicas no Japão tem negócios demais", disse Atul Goyal, analista de produtos eletrônicos da firma de corretagem CLSA. "Essas companhias precisam pensar quais são suas forças, quais são suas fraquezas e se concentrar nas principais forças."
Resistindo à tendência está a Nintendo, uma das companhias tecnológicas mais consistentemente rentáveis do Japão, que vende apenas dois produtos de hardware: o console de videogames doméstico Wii e o hand-held DS.
Uma medida óbvia que muitos fabricantes japoneses poderiam considerar, preferida por conglomerados americanos como a General Electric, seria vender as empresas que dão prejuízo ou apenas lucros marginais e cortar o excesso de funcionários. Mas as grandes demissões, consideradas um lapso de responsabilidade social, especialmente em empresas maiores, ainda são um tabu no Japão corporativo.
"Temos altas expectativas para os mercados emergentes", disse Ohtsubo, o presidente da Panasonic. "Nosso enfoque será aumentar as vendas no exterior."
Outros não têm certeza se essa é uma estratégia sustentável. "Quando os recursos são limitados, é importante perguntar: com o que você realmente quer se comprometer?", disse Michiko Kakiya, analista de tecnologia baseado em Tóquio.


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