São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2011

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LENTE

Vivendo com um propósito

As dificuldades do setor habitacional podem ter modificado o mercado imobiliário, mas, após uma enxurrada de enchentes, incêndios e recessões, nossas noções do que significa uma casa também podem ter mudado. Calamidades naturais levaram algumas pessoas a viver com um senso maior de urgência.
Para os 5.000 moradores de West Pittston, Pensilvânia, às margens do rio Susquehanna, uma vista bonita deixou de ser prioridade desde que as recentes enchentes quase recordes praticamente engoliram as casas.
Há 40 anos atrás, após outra inundação, a cidade se perguntou o que valia mais, a vista ou a vida. Mas, preocupada com o custo da construção e interessada em proteger seu cenário pitoresco, a cidade optou pela vista, informou o "New York Times". Hoje essa decisão assombra os moradores. "A nova geração quer uma barragem", disse ao jornal Ivy Berry, cuja casa está cheia de lama e escombros.
Contemplando sua vista, ela ponderou: "Compramos a casa nesta rua porque daqui podíamos ver o rio. Mas hoje isso já deixou de ser importante."
Ela não vive no 24° andar de um edifício com vista deslumbrante do monte Fuji, no Japão. O alto edifício em que Masako Tsubuku morava resistiu ao terremoto em março, embora tenha oscilado, paralisando seus elevadores. "Eu não sabia antes como é assustador viver tão longe do chão", disse Tsubuku ao "New York Times".
As vendas de apartamentos em edifícios altos em Tóquio caíram vertiginosamente, e inquilinos, como Tsubuku, se mudaram para outros lugares, segundo o jornal. "As pessoas se perguntam o que vai acontecer quando chegar o próximo grande terremoto", disse ao NYT Toru Matsumura, diretor de uma equipe de investidores imobiliários. Projetos imobiliários no valor de bilhões de dólares estão em risco, na medida em que a cautela ameaça sustar a corrida imobiliária que converteu o setor de Tóquio de frente para o mar em um distrito de arranha-céus.
A maior parte das obras de construção em Bozeman, Montana, ficou paralisada quando o setor da construção foi afetado pela recessão. Mas o empreiteiro Anders Lewendal tem um plano para reativar as obras e os empregos: erguer casas usando unicamente materiais americanos. A madeira, o cimento, os pregos, o encanamento e as lâmpadas, tudo terá que ser "made in U.S.A."
"O importante é que as coisas pequenas se somam e viram grandes. Poderíamos resolver esta recessão se todo o mundo comprasse pelo menos 5% de produtos feitos nos EUA", disse.
Pelo fato de Lewendal estar construindo uma casa feita com materiais exclusivamente americanos e que obedece a critérios rígidos de conservação energética, as implicações econômicas e sociais vão se misturar, afirmou.
É o que acontece com quem defende a autossuficiência das casas e famílias. A permacultura -um sistema para criar assentamentos humanos sustentáveis, conservando a água e cultivando alimentos o ano inteiro- visa desacelerar a crise iminente de recursos naturais da Terra e beneficiar seus habitantes. Filosofia que foi desenvolvida na Tasmânia três décadas atrás, ela já chegou ao grande público.
As tropas dos EUA pretendem aplicar a permacultura aos projetos agrícolas e de infraestrutura no Afeganistão.
Bruce Feldman, 60, estava em um workshop de permacultura no Wisconsin. Ele viveu duas décadas fora do país como professor e passou por um terremoto no Japão, em 1995, que o deixou perambulando pelas ruas durante dias. "Isso me fez pensar que eu deveria começar a preparar meu próprio futuro".
ANITA PATIL

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